Eu estava andando apressadamente pelas ruas do centro com ambas as mãos nos bolsos do casaco. Fazia frio, muito frio. Maldita hora que minha mãe me mandou pegar aquele dinheiro na casa de uma tia que mora num dos bairros mais perigosos da cidade. Sabia que aquela velha inconveniente não me deixaria sair de lá cedo, e lá estava eu, caminhando por becos escuros para chegar naquela parada de ônibus. Apesar de tudo, a situação seria suportável se não fosse aquela fome, estava sentindo o vazio dentro de mim, a necessidade estava deixando meu corpo fraco.
Era sempre assim, eu ficava um longo tempo sem sentir nenhuma vontade. Até que a fome atacava, e quando ela atacava já vinha a fraqueza. Eu sou uma pessoa doente. Precisava controlar meus horários, não devia sentir aquilo naquele momento. Um mínimo de disciplina e a história seria outra.
Cheguei à parada de ônibus. Ninguém a vista, segurei no poste para evitar cair, estava um pouco tonto. Vários carros passavam iluminando parcialmente o local onde estava, mas meu ônibus não vinha. Céus. Infernos. Só acontece comigo isso. Estava nervoso e achando que não havia como piorar a situação quando um estranho se aproximou. Era um cara moreno, bem mais alto que eu e também mais velho. A barba por fazer era visível da distancia de meio quarteirão que me separava dele. Vestia uma jaqueta jeans bem apertada no corpo. Não vi de onde ele saiu, foi como se tivesse se materializado no meio do quarteirão, e se aproximava de mim tão rápido, que parecia flutuar.
Não venha, não agora, foi só o que pensei quando ele aproximou-se ainda mais e ficou parado há 5 metros de mim, como quem também espera um ônibus. Não me olhou em momento algum.
Senti um terrível medo, não sabia quem era aquele cara, de onde veio, o que estava passando pela mente dele. Mas eu estava fraco, não tinha opção.
Olhei para minha mão, vi o sangue correndo em minhas veias. Ele continuava lá, quase de costas para mim. Senti sua energia pulsando viva, rodeando todo o seu corpo como círculos de luz incolor.
Concentrei-me no bater do meu coração, ouvi minha respiração lenta e compassada, fiz aquilo que fui ensinado a fazer. Abri a boca lentamente e inspirei apenas por ela. Aquela energia incolor oscilou, como um galho de árvore sacudido pelo vento. Inspirei novamente, senti ela se aproximando, mais uma inspiração e ela foi entrando pela minha boca, alimentando meu corpo como uma água espiritual.
O homem não se moveu, ele devia sentir algo, mas sua incredulidade jamais lhe permitiria identificar meu ataque. Suguei dele o suficiente para me reequilibrar, fui interrompido pela chegada do ônibus, no qual subi deixando-o lá, como se nada tivesse acontecido.
Eu sinto por ele, e sinto por tantos que são atacados e não sabem. Se dependesse de mim, não teria retirado nem um décimo de sua energia vital, mas não depende, eu sou Taylan, um psivamp, não tenho opção. Eu preciso disso.
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