28 de jul. de 2020

Gatolicismo Compendium - Um Guia para a Religião dos Gatos



De alguma forma eu sabia que este momento haveria de chegar. Após vários volumes de gatolicismo, idéias maiores sempre ficavam fervilhando na mente e precisavam sair. Assim, lanço o sexto livro de Gatolicismo e o primeiro realmente em formato de livro. Evangelhos apócrifos, Sutras, evocações aos deuses felinos do antigo Egito Gatólicas e até o ritual completo do culto gatólico secreto, que não é mais secreto porque cada um pode ver.

Como todo livro completo, estou lançando lá no Clube de Autores, você pode comprar o seu clicando AQUI

O preço ficou um pouco maior que o normal, porque coloquei para ser impresso em papel do tipo pólen (aquele amarelinho), isto porque eu acho esse papel mais bonito e quero o meu impresso nele. Porém, como todos os meus livros, ninguém é obrigado a comprar, porque também disponibilizo aqui os links para baixar nos formatos:


PDF

e

EPUB


Espero que todos sejam gatolicamente abençoados com esta leitura.

Ave gato.

Ian Morais.



20 de mai. de 2020

Direita e Esquerda na Umbanda



A DIREITA NA UMBANDA


A direita é a face mais conhecida da Umbanda. É nela que estão as entidades que são os símbolos mais conhecidos da religião. Existem três linhas principais na direita tradicionalmente e elas formam uma trindade Umbandista, são um tripé sobre o qual a religião está assentada: Pretos-velhos, Caboclos e Erês. 
A trindade preto-velho/caboclo/erê representa, respectivamente a sabedoria, a força e a pureza. Representam, ainda, um aspecto tríplice da missão da direita na Umbanda: ensinar, carregar e purificar. 

A Sabedoria -  Pretos-Velhos


O Umbandista está sempre em busca da sabedoria e tal virtude é simbolizada nos mais velhos, que já viram de tudo e podem nos aconselhar sobre quais caminhos são melhores de percorrer no mundo. As entidades que trabalham nas linhas de preto-velho estão entre as mais experientes, elevadas espiritualmente e sábias que baixam em um terreiro. São tratadas com atenção especial pelas outras entidades porque assim como no físico, no astral também é ensinado a ouvir os que viveram mais e sabem mais do que nós. Representar o ensinar na Umbanda por motivos óbvios, a detenção de grande conhecimento e sabedoria. 

A Força - Caboclos

Os Caboclos são a mais expressão da presença ameríndia na Umbanda. Caboclo é imediatamente identificado como índio, embora nem todos o tenham sido. São representantes da força, trazem a energia bruta da direita, a força das matas, dos rios, das pedreiras para vibrar na Umbanda e ajudarem os necessitados que acorrem aos terreiros em busca de auxílio. Representam o carregar porque sua simples presença exala energia pura dos pontos de força. 

A Pureza - Erês



Jesus Cristo dizia que quem não se fizer como as crianças não poderá adentrar no reino dos céus. Significa que a pureza de espírito é indissociável da evolução espiritual. A função das crianças é trazer a pureza, trabalhar o emocional tirando os estresses, as preocupações, as dores do espírito. Nos levar à nosso eu mais leve, mais puro. Não é à toa que seus instrumentos de trabalho, os doces, costumam aliviar até mesmo os maiores estresses ou preocupações. Embora, tais como os doces, não podemos querer apenas a pureza dos Erês. É preciso da sabedoria dos preto velhos para entender a vida e a força dos caboclos para não desistir dela. A grande diferença dos erês como representação da pureza é que a energia pura pode penetrar em qualquer espaço, então é característica das crianças a possibilidade de viajar entre diferentes vibrações, razão pela qual é muito comum essas entidades darem recado das outras aos seus médiuns. 

Um médium de Umbanda dificilmente não possuirá ao menos uma entidade de trabalho em uma das 3 linhas citadas acima. São elas as grandes propulsoras da sabedoria, da força e da inocência, todas essenciais para o desenvolvimento espiritual e pessoal. 



A ESQUERDA NA UMBANDA


A esquerda da Umbanda é o grande pólo de equilíbrio, é a corda que segura a lona de pé para que o circo possa fazer seu espetáculo. Existem diversas linhas de entidades que trabalham na esquerda, descarregando e protegendo os trabalho. Entretanto, tal como na direita, é possível fazer uma divisão básica das linhas elementares. 

Exu: Grande guarda dos trabalhos, responsável por manter as coisas ruins de fora de uma corrente. Grande conhecedor das artes negras para que possa combatê-las. Exu é o pólo masculino da esquerda. Ele vibra combatendo a energia dos vícios ligados à energia masculina, a agressividade, a violência, o desregramento financeiro, a falta de foco para o trabalho e o sexo desregrado. 

 Bombogira: Muitas vezes considerada um Exu feminino, pela confusão normalmente feita entre suas funções. Bombogira combate os excessos ligados à energia feminina fazendo par com exu, o desequilíbrio emocional, a passividade doentia, desregramentos financeiros e sexuais. 

Em regras gerais, de forma simplista, podemos dizer que Exu lida com problemas materiais e Bombogira com os emocionais, mas é apenas uma divisão grosseira para que se entenda que cada um tem seu papel. A verdade é que os papéis são similares, porém complementares, um não substitui o outro. Por tal razão, todo médium de trabalho possui um casal dessas entidades que trabalham junto consigo auxiliando. 


Exu-mirim e Bombogira-mirim: São as crianças da esquerda. Tal como as crianças da direita, representam pureza, no entanto, trabalham nas zonas de maior densidade psíquica. Sua função de forma simbólica é proteger a pureza da corrupção, enquanto a dos erês é elevar a pureza. Na prática, são entidades que por transitarem com facilidade entre os os níveis vibracionais, podem levar mensagens e força para que o trabalho dos Exus e Bombogiras seja realizado, servindo de ponte entre a força dos guardiões e a mãos trabalhadoras dos benfeitores da esquerda. Por tal razão, não é necessário que um médium tenha um casal formado por Exu-mirim e Bombogira-mirim. Assim como no caso dos Erês, é possível ter um masculino e outro feminino, dois masculinos, dois femininos ou tantos quantos a espiritualidade julgue necessários, sejam de quais sexos forem, inclusive nenhum, pois não é linha de trabalho cuja incorporação se faz imprescindível.

Essas são as linhas mais tradicionais, com exceção dos últimos, exu e bombogira mirim, que não são vistos em toda parte. Embora existam outras correntes de trabalhadores astrais na Umbanda, começar falando apenas sobre estas é uma ótima forma de mostrar como a religião funciona no astral. Em outro post falaremos de outras linhas de trabalho da esquerda e da direita.
Créditos das imagens: pixabay.

3 de mai. de 2020

Iniciação à Umbanda - Resenha de Livro



Sabem aqueles livros antigos que você do nada descobre que saiu uma edição novíssima e você não pode perder? Foi assim com o livro Iiniciação à Umbanda, de Dandara e Zeca Ligiero. 

Se trata de um volume lançado inicialmente no ano 2000, eu conhecia o autor por outro livro dele chamado Iniciação ao Candomblé, que achei muito didático e instrutivo. 

Este relançamento não possui mudanças no texto, apenas adaptação ao novo acordo ortográfico, o que é interessante porque você saberá como a obra era tal e qual, porém, também tem seus pontos negativos porque o autor pode ter estudado muito mais coisas, adquirido mais conhecimentos e acaba por não atualizar.

Enfim, a Editora Pallas está de parabéns pelo trabalho, é primoroso e luxuoso, a capa super confortável de pegar. Infelizmente identifiquei um pequeno erro na pag. 156, faltou colocar o título do tópico destinado aos preto-velhos, mas nada que desmereça, vale a pena ter na estante. 

Sobre o conteúdo do livro em si, me surpreendeu a profundidade da pesquisa bibliográfica empreendida pelo autor. A gente espera um texto simples com tópicos genéricos de introdução à religião pelo título e recebemos um conteúdo de nível acadêmico, porém, com linguagem simples e acessível. 

O livro tem esse notável mérito de apresentar uma pesquisa com muitas fontes para o leitor. Diferente da maioria dos textos introdutórios onde o autor repassa sua visão pessoal, muitas vezes recebida de forma oral e o leitor acaba com várias ideias conflitantes na cabeça após ler vários livros de tradições diferentes. 

Pesquisas de estudiosos nacionais e internacionais vão sendo apresentadas enquanto conceitos complexos são exposto e você acaba com uma visão bem clara sobre muitos elementos da religião. 

O ponto alto do livro com certeza é a exposição que o autor faz da tradição Banto/Congo para a Umbanda e as religiões afrobrasileiras em geral, tradição tão menos conhecida que a Yoruba (que nos legou os orixás da Umbanda) mas que trouxeram o estilo de trabalho, a pemba, os pontos riscados, entidades como a Bombogira, dentre tantas outras coisas que o Umbandista comum muitas vezes ignora. 

Entretanto, a meu ver, ao chamar atenção para essa ignorância quanto à tradição Congo, o autor acaba por subestimar a herança indígena da Umbanda. Ele demonstra que muitas coisas que consideramos tipicamente indígenas já estavam presentes na tradição que os negros do antigo Reino do Congo trouxeram ao Brasil. Acontece que, como nordestino que sou e adepto de Umbanda e Jurema Sagrada, a herança indígena para mim é muito marcante, bem como para muitos adeptos que tem enorme carinho por entidades de Umbanda oriundas da Jurema, como a própria Cabocla Jurema, seu Zé Pelintra, Zé Sibamba, dentre outros. 

Considerando que o autor basicamente se dispõe à expor as entranhas da Umbanda carioca, não debruçando-se sobre as tradições nordestinas, é uma falha compreensível, ou sequer é uma falha, mas acho importante chamar atenção para tal ponto porque, eventualmente, um leitor desavisado pode considerar que Umbanda não tem nada de indígena porque o intercambio de práticas espirituais entre dos nossos índios com as outras raças se deu de forma mais forte no Norte e Nordeste que nas outras regiões do país. 

Também gera um pouco de incômodo o autor chamar de "mito" a clássica história da fundação da Umbanda por parte de Zélio de Morais, cuja linha de trabalho é chamada de "Umbanda Católica". Embora como tudo mais no livro seja racionalmente explicado, a gestação deste termo "Umbanda" se deu a partir do grupo formado por Zélio, se expandindo e sendo hoje como uma grande mãe onde diversas tradições com inclinações mais católicas, mais kardecistas, mais indígenas e/ou mais africanistas se reúnem sob um mesmo manto de amor.

Embora o próprio Zélio nunca tenha se proposto a ter qualquer propriedade sobre o termo Umbanda, nem o grupo espiritual que ele deixou, que existe até hoje conduzido pela sua família, nomes tem poder, portanto acho importante ressaltar que este nome foi criado ali naquele grupo, se expandindo e denominando dezenas de outros grupos diversos de modo que hoje não podemos reduzir Umbanda  a nenhuma tradição e se considerarmos a Umbanda tal qual é praticada, é impossível dizer que alguém fundou esta UMBANDA como um todo. Entendo que é a isto que o autor se refere, portanto, não há nenhuma má intenção na forma como ele expõe. Na verdade, ele está certo, se considerarmos que ele fala dessa universalidade que hoje temos. Da mesma forma que humildemente considero estar certo, e não estou sozinho nessa, em separar o joio do trigo dando a Zélio o que é de Zélio.

É isso, excelente dica de leitura, iniciei na noite de um dia e terminei na manhã seguinte. Deveria ter na biblioteca de todo Umbandista zeloso. A bibliografia cuidadosamente destacada com máximo zelo é um espetáculo a parte e abre a mente para novos horizontes caso o leitor queira se aprofundar em algum tópico específico. Foi o meu caso, já estou lendo outro livro, bem como assisti uma palestra para esclarecer pontos que o autor levanta e aguçou demais a curiosidade.

Por fim, eu sei que são dois autores, mas escrever tudo falando apenas autor facilita demais. Obrigado, então, aos autores, Dandara e Zeca Ligiéro por este primor, bem como à editora Pallas por relançar esta importante obra e ainda ter tanto zelo nos materiais, diagramação, tudo.