8 de jun. de 2012

Curas Energéticas - O que São, como Funcionam e seu Papel perante a Medicina Tradicional




Quando falamos em cura energética, é despertada em muitas pessoas uma gama de significados tão complexos, que muitas possuem dificuldades em dar uma definição precisa quando lhe é pedido, se tratando de pacientes ou de aplicadores de alguma técnica relacionada.

A cura através da energia se faz por dois meios principais, amor e fé. Primeiro você tem que canalizar o amor universal dentro de você e direcioná-lo para o paciente, o amor universal lhe fará ter o desejo real e sincero de promover a cura, enquanto que associado a fé ele cria uma barreira entre você e o problema tratado, para que você não se envolva, apenas cumpra o seu papel de curador. Pois, como dizem as rezadeiras “quem cura é Deus”, então se o paciente será curado ou não, depende da vontade de Deus, você apenas clama com sua fé e amor universal ao criador que olhe para aquele filho em sofrimento. Esse é tão somente o papel do curador energético.

Pretendo aqui não apenas falar de cura energética, mas divulgar técnicas e promover o acesso, na medida do possível, aos eventuais interessados em aprender algumas delas, por isso a importância de falar a minha visão sobre as curas. Ela não é a única, nem tem a pretensão de ser a verdadeira. É apenas uma visão pessoal, a maneira que as coisas funcionam para mim. Peço compreensão aos que não entenderam bem, paciência aos que entenderam bem e querem mais e respeito aos que não concordam.

A cura energética se dá em dois polos distintos, limpeza e energização. A limpeza consiste na retirada de cargas negativas agregadas ao indivíduo e a energização consiste na aplicação de energias positivas ao mesmo. É um conceito muito simples de entender. Comparando nosso corpo espiritual com uma casa, primeiro precisamos limpar a casa, remover poeiras, sujeiras, gorduras acumuladas pelas paredes e etc. Após esse passo inicial, podemos passar uma substância aromática, cera para lustrar e demais produtos destinados a deixar o ambiente mais bonito e conservado.

A grandes maioria das técnicas de cura prometem realizar os dois processos em conjunto, e de fato isto é o ideal. No caso de banhos, primeiro se deve usar os banhos de limpeza e após isso os de energização. Em aplicação de energia pelas mãos se da da mesma forma, primeiro é preciso limpar e depois energizar. A mesma coisa com benzimentos, antes de realizar um destinado a abrir caminhos, é importante limpar as sujeiras acumuladas por mau olhado, invejas, raivas e demais sentimentos negativos que estejam acumulados.

Que energia é retirada da pessoa? Energias negativas dos mais variados tipos, as raivas do dia a dia, discussões em geral, estresses, inveja, mau olhado, tudo isto possui uma carga energética. Tal carga se agrega a energia de um indivíduo, se não for feita uma limpeza de tempos em tempos, você se vê às voltas com diversos problemas mentais, emocionais e físicos como cansaço, falta de sorte, enfraquecimento do sistema imunológico, falta de concentração, facilidade para ser obsediado por entidades espirituais, dentre outras.

São essas as energias retiradas, e a descrição delas deve ter deixado claro que limpeza energética é algo que todos devem fazer, é algo tão importante como tomar banho para limpar o corpo físico. A propósito, não tomar banho cria sujeira agregada ao corpo físico, o que também contribui para energias negativas se agregarem ao corpo espiritual, mesma coisa com o ambiente em que você vive, ambientes sujos atraem energias ruins mais fortemente que ambientes limpos. Portanto, tomem banho e limpem seus quartos e casas, não esquecendo de lavar a louça e o banheiro. Mas não digam por ai que eu falei que só pelo ambiente ser mais limpo fisicamente ele será mais limpo espiritualmente, pois isso é incorreto, não adianta sua casa brilhar se todos vivem brigando e se estapeando. Enfim, é uma questão de equilíbrio, nenhum fator determina sozinho se um local está limpo ou sujo energeticamente.

Falamos das energias que são retiradas, agora falaremos das acrescentadas. É ainda mais simples de explicar que as primeiras, é acrescentada energia pura e limpa para preencher o espaço das energias negativas retiradas e renovar o campo espiritual como um todo. As velhas rezadeiras dizem que é a energia de Deus, a força da fé. No entanto, tal energia é conhecida por diferentes termos nas mais variadas partes, cada cultura ou religião tem um nome para ela, eis alguns deles:

Prana(Índia);
Chi(China);
Energia Bioplasmática(Rússia);
KA(Egito);Pneuma(Grécia Antiga);
Luz ou Espírito Santo(Cristãos);
Orgônio(Reich);
Fogo Central(Pitágoras);
Fogo Interior(Hipócrates);
Magnetismo(Mesmer)
Fluido da Vida(Alquimistas);
Mana(Kahunas);
Baraka(Sufis);
Ruach(Judeus);
Pneuma(Gauleses);
Orenda(Índios americanos).

O encontro dessa energia com a energia do nosso corpo promove a cura em todos os níveis. Isso quer dizer que um tratamento energético substitui tratamento médico? CLARO QUE NÃO. Se substituísse a medicina nunca teria se desenvolvido, porque nunca teria sido necessária. E vamos deixar algo bem claro, a cura energética não é superior a ciência médica por tratar o indivíduo como um todo, enquanto a ciência médica trata apenas um campo. Isso é uma grande bobagem infelizmente propagada nos mais diversos rincões do esoterismo. Nos tempos primitivos havia apenas as técnicas energéticas de curas, os curandeiros, eles tratavam dos males do espírito e do corpo de forma igual. Porém, quando alguém tinha uma doença grave, como lepra, um câncer, uma doença venérea ou sofria um acidente grave, as práticas xamânicas pouco podiam fazer além de procurar dar conforto espiritual para o paciente até a hora da morte.

A medicina muda todo dia essa realidade, novas doenças são curadas, novos traumas são tratados e novos pacientes reabilitados, um mero corte hoje em dia não mata mais por infecção nos níveis que matava a alguns séculos. Tudo isso graças ao avanço da medicina. Tudo isso porque o homem sabia como tratar os corpos mental, emocional e espiritual, mas não era bom em tratar o corpo físico.

Isso significa que as curas energéticas foram ultrapassadas? Muito pelo contrário, agora é que elas são necessárias mesmo, exatamente para acompanhar essa grande evolução da medicina, levando conforto e equilíbrio espiritual aos pacientes submetidos aos modernos tratamentos médicos.

Enfim, quando a doença está além do campo espiritual, com implicações no campo físico, a medicina é indispensável. Qualquer praticamente de cura energética que analise com racionalidade a evolução da medicina, entenderá que ela merece tanta veneração quanto as técnicas de cura energética ancestrais. Todas possuem suas qualidades e defeitos, assim como todas são indispensáveis para a saúde e o bem estar geral de toda a humanidade.


30 de mai. de 2012

Como Combater o Mau Olhado – Nosso e dos Outros




O mau olhado, se fosse possível realizar seu estudo científico, seria certamente tido como um sério caso de saúde pública a nível mundial. Quando as religiões falam sobre amar ao próximo, não desejar as coisas alheias e coisas do tipo, não são apenas regras morais de conduta. São mais do que isso, são verdadeiros princípios para caminhar sobre o mundo sem atingir os outros com energias negativas.

A inveja é uma coisa super comum, por mais bonito ou rico que alguém possa ser, há sempre algo que essa pessoa desejaria. Ao desejar, concentramos nossa mente em algo e emitimos energia direcionada a esse algo. Isso também ocorre quando julgamos algo, se achamos uma criança feia, podemos estar emitindo energia negativa ligada ao nojo para ela. Se a achamos bonita, podemos estar emitindo energia negativa relacionada a admiração.

É uma tarefa para seres iluminados se livrar completamente de ser influenciado ou se influenciar os outros com tais energias. Enquanto não alcançamos esse patamar, há duas coisas que podemos fazer.

Para nos precaver de passar energia ruim para os outros devemos manter a mente com bons pensamentos, ter práticas espirituais e exercitar o desprendimento. Procurar nos concentrar mais em nossos projetos pessoais que em querer alcançar as mesmas conquistar dos outros. Enfim, é uma questão de exercitar a lei do amor. Só o amor combate o mau que existe dentro de nós, desenvolvendo o amor direcionado para todas as criaturas vivas estaremos protegendo-as de eventuais cargas negativas que pudéssemos direcionar.

Por outro lado, para nos proteger das energias negativas que os outros nos direcionam, Deus nos deixou as práticas de defesa mágica. Dentre elas a que ressalto aqui é o benzimento, uma forma de usar a força de fé e as energias da natureza para anular as más influências que sofremos dos outros.

27 de mai. de 2012

A Arte das Rezas Antigas, Benzimentos e Benzeduras





“Deus foi quem te fez.
Deus foi quem te Criou. 
Deus é quem te cura.” 
Versos comuns em rezas usadas por vários rezadores

Tenho o objetivo de escrever algumas postagens ensinando benzimentos, estando desde já criado um marcador especialmente para tal fim. Entretanto, antes de entrar na parte prática, como este blog também é voltado para a teoria, falarei um pouco sobre a teoria das rezas e benzeduras. Decidi usar perguntas e respostas por achar uma forma bastante didática de expor o assunto.

  1. O que são rezas e benzimentos?


São orações, acompanhadas de certos elementos rituais (como o uso de ramos, águas agulhas e etc) voltados a invocar a energia divina para agir sobre determinado alvo. Poderia ser feita uma separação, as rezas serem apenas orações e os benzimentos serem acompanhados de elementos rituais, porém, pessoalmente acho a separação sem sentido prático uma vez que o princípio ativo, a fé, é o mesmo.

  1. Qual a origem das rezas e benzimentos?

As rezas e benzimentos praticadas no Brasil são uma mistura de antigas tradições de Portugal, dos indígenas locais e dos negros. Mas se formos vasculhar a história, acharemos vestígios dessas práticas em sociedades bem antigas, que já usavam as mesmas plantas que os rezadores usavam, assim como também invocavam os poderes divinos para fins de cura. Considerando serem as tradições xamânicas as manifestações mais antigas de espiritualidade dos povos primitivos e que usavam rezas, plantas e outros elementos naturais para evocar energias do mundo espiritual para tratar males do corpo, da mente e do espírito, podemos dizer que os benzimentos possuem uma raíz muito antiga, se adaptando à realidade de cada sociedade no decorrer da história.

  1. Porque recorrer a benzimentos?


Estamos cercados o tempo todo por energias, sejam boas ou ruins e não podemos escapar à ação dessas energias. Um energia negativa pode afetar nosso bem estar emocional ou mental e chegar até mesmo a produzir efeitos físicos. Se você acredita na realidade espiritual, não pode negar que as energias dessa outra realidade podem nos influenciar negativamente. Portanto, precisamos de armas para nos defender de tais influencias negativas. E porque iríamos nos negar a ter acesso a um instrumento de defesa tão antigo que as forças superiores disponibilizam?

  1. Como um benzimento funciona?


Energias ruins afetam as pessoas, e isso é um fato. Elas nos afetam porque isso é a ordem natural no mundo em que vivemos, mas podemos superar isso nos apegando a energias boas. Um destes caminhos é a fé. Ao pedir com fé que a piedade divina aja sobre uma pessoa, você será ouvido. Vai depender não só da fé do rezador, mas a fé do paciente e o merecimento. Um problema de origem cármica, pelo qual a pessoa tem que necessariamente passar, não irá sumir com uma simples reza, mas a reza em si alivia o próprio carma, e portando sempre irá fazer bem.

  1. Como se tornar um rezador/benzedeiro?


É muito mais simples do que a grande maioria das pessoas pensa. Eu disse simples, e não fácil. O único elemento de que você precisa é de fé. Coloque a fé nas palavras que dirige para o alto e você estará realizando um benzimento. Você precisa acreditar no que está fazendo, confiar na providência divina. E não procure ver se os benzimentos foram efetivos, não se apegue a isso. Deus sabe quem deve ser ou não curado e devemos confiar em sua sapiência. Assim como o rezador usa o ramo, Deus usa o rezador para transmitir ao mundo a sua piedade infinita.

Em postagens futuras vamos alargar nosso conhecimento sobre benzimentos, falando de coisas como o papel dos ramos de diferentes plantas. Por fim, deixo abaixo um documentário disponível no Youtube sobre rezadeiras do Nordeste que se chama O RAMO. É um documentário muito bom que mostra a realidade de várias rezadeiras idosas e dá uma ideia muito boa de como é a prática e o estado de espírito necessário para se tornar um rezador. Muitas dessas rezadeiras levarão para o túmulo os seus conhecimentos por falta de interessados em aprender a arte. Não deixemos uma herança cultural, religiosa e mágica tão rica se perder.

O Ramo – Parte 1





O Ramo – Parte 2




Alho - Como usar em Defesa Mágica




Algumas pessoas, em especial aquelas que acham que a magia é uma coisa da velha Europa, encantam-se com a descrição de materiais mágicos que raramente encontramos por aqui. Pelos de animais, galhos de árvores e outros elementos de origem europeia. As vezes isso deve-se simplesmente a falta de estudo. E quando falo estudo não me refiro apenas a leitura. A magia está no nosso dia a dia, no conhecimento dos antigos, nas velhas rezas, velhos rituais e velhos costumes. Seja vindo de negros e índios ou de culturas dos homem branco, há conhecimentos dispersos e transmitidos de forma oral, como o caso dos benzimentos, que são genuinas manifestações da magia, muitas vezes ignoradas por aqueles candidatos a magistas deslumbrados com o que vem do estrangeiro.

Pensando nisso resolvi falar de alguns desses velhos conhecimentos, mostrando como a magia pode ser realizada com elementos do dia a dia, alguns que sempre estiveram ao alcance da mão. Hoje falaremos do alho.

O alho desde a antiguidade é visto como um gerador de proteção. Histórias sobre afastar vampiros são bastante populares. O alho é um ótimo absorvente de energias negativas, mas quais os reais efeitos do vegetal? Vou elencar aqueles que já testei.

  1. Para evitar o mau olhado de visitas sobre sua casa ou objetos pessoais, mantenha um pequeno arranjo de uma taça de vidro de sal grosso com alhos dentro, se a taça for grande o suficiente, coloque toda uma cabeça de alho.

  2. Se deseja prevenir a penetração de energias negativas em uma casa ou ambiente, espete um dente de alho em cada porta ou entrada (janela, buraco) do local. O alho pode ser espetado em um prego sem ponta ou um alfinete, de preferência o que tiver força para penetrar numa parede ou porta e ficar pregado.
  3. Para verificar se há energias de magia negra direcionadas a você, pegue alguns dentes de alho e coloque em um local com alta concentração de sua energia, (cama, gaveta de roupas íntimas), observe o estado do alho após absorver os resquícios de energias negativa presentes nesses locais. Furar o alho com um alfinete eleva a sua capacidade de absorção.

  4. Para proteger seu carro de energias ruins, coloque alguns dentes de alho em locais estratégicos: um no porta luvas. Um no porta malas e um em cada porta dianteira, ou apenas 3 no porta luvas.

  5. Se alguém colocou mau olhado em seu filho, faça com que essa pessoa aceite um dente de alho oferecido por você que ela perde a capacidade de jogar mau olhado no seu filho. Serve para quando o alvo do mau olhado é você também, isso é indicado para casos de mau olhado reincidente, quando uma pessoa sempre que lhe visita deixa seu bebê doente, por exemplo. Dê o alho de presente e se livre disso.

  6. Ande com 3 dentes de alho no bolso ou na bolsa para proteção contra vampiros psíquicos e mau olhado de forma geral. Serve para mochilas também, andar com alho de qualquer forma sempre será benéfico.

  7. Faça um círculo de dentes de alho e coloque a fotografia ou nome completo com data de nascimento de uma pessoa dentro, irá ajudar a exorcizar energias negativas entranhadas na mesma, além de prevenir o acúmulo de novas energias negativas.
Por fim, não esqueçamos que o alho tem duplo efeito, ele suga energias negativas já fixadas em você (caráter exorcista) e previne que novas energias negativas te envolvam ou te suguem (caráter protetor), associando-se a abertura de caminhos e a boa sorte também.

Sei que existem bem mais práticas relacionadas ao alho, mas prefiro colocar apenas aquelas das quais tenho referências pessoais. Poderei aumentar essa lista posteriormente e os leitores são convidados a inserir nos comentários as práticas que conhecem utilizando essa excepcional planta.


25 de mai. de 2012

Que é a Magia?


A Magia, o próprio nome possui uma carga de sedução tão poderosa, que eu gosto de as vezes pronunciar apenas para ouvir o som que o mesmo provoca. Magia, para mim, é a arte de interagir e manipular as forças desconhecidas da natureza, interior e exterior ao homem, isso em sentido estrito. Em sentido amplo, e eu gosto desse sentido amplo, Magia é tudo que dá um “tapa na cara” da realidade instituida, ou seja, que mostra o que está sob o véu do que as pessoas acham que é real. Desse ponto de vista, a aparição de uma fada é magia, a criação de um servidor é magia, o acesso a um outro plano através da meditação é magia, até um milagre realizado por um religioso é magia.

Creio que a magia possua dois processos básicos, interno e externo. Em primeiro lugar, você precisa acreditar internamente na magia, desenvolver sua mente, seu ser, para entender e acessar as forças desconhecidas, para então interagir com elas. O poder de um “mago” se resume a dois fatores: talentoXestudo. Alguns nascem com pré disposição para a coisa, mas não estudam e nunca desenvolvem, outros nascem sem praticamente nenhuma inclinação, mas se interessam e vão longe.

O poder mágico então, se dá por uma conjugação de dois processos,  desenvolvimento interno e o acesso à energias externas (sem contar no acesso às energias internas também, algumas pessoas possuem energias internas super potentes e devem usá-las com bom planejamento para desenvolver ainda mais seu poder mágico).

Considerando a magia como possuidora de elementos exteriores ao indivíduo, podemos afirmar que ela pode ocorrer independente da vontade do indivíduo. A magia pode lhe atingir quando você menos esperar. Ela pode chamá-lo para desvendar seus mistérios. Ela pode envolver sua vida até você não ter escolha senão explorá-la. Ela esta  na natureza, independente de sua vontade. Esta na floresta, nas águas, no ar, na vida que pulsa por todas as partes. 

Esta nos deuses, em Deus. Acho essa Magia muito mais interessante, mais iluminadora e real que aquela que se resume a técnicas mentais para desenvolver a vontade individual. Por isso acho a maioria das ordens tão pobre de objetivos, não me empolgam, reduzem a magia à manipulação da vontade humana, dão uma supervalorização ao homens, considerando-o grande demais. Sou contra isso, acho que para crescer, o primeiro passo é reconhecer-se pequeno. 

20 de mar. de 2012

Diário de Guerra


Percebi que teria total sucesso na empreitada da noite quando notei a morte por perto.  Ela não perderia seu tempo rondando aquele lugar se algo não estivesse por acontecer. Isso fez com que me empenhasse com mais ardor ainda à tarefa. E a tarefa se chamava Rômulo, o grande Rômulo.

Ele não passava de um grande bebum metido a valente que tinha como passatempo favorito ficar postado no balcão daquele bar de periferia encarando com seus olhos raivosos quem quer que se aproxime. Isso o dava poder, o único poder que alguém de caráter tão fracassado poderia vir a almejar.


Tudo começou naquela tarde, quando uma fofoca entre duas de suas vizinhas me deu a melhor das idéias para criar um pouco de diversão. Falavam que a esposa de Rômulo teria traído ele em um pagode na noite anterior. Ouvi tudo e esperei que se separassem para me achegar com a que parecia mais propensa a uma conversa comigo.

- E ai, Joana. – Falei – Que tal contar tudo isso ao Rômulo?

- Não vou fazer, claro que não. Nem é da minha conta o que a mulher dele anda fazendo por ai, e ele nem vai acreditar em mim.

- Claro que ele vai acreditar, você não é mulher de andar com mentiras. Além do mais, se ele duvidar é só mandar ele ir perguntar ao Rogério, o homem que ficou com ela.
- Tem razão, e além do mais, aquela zinha até merece isso né?

- E como merece.- Enfatizei.

A semente estava plantada. Quando Rômulo chegou do trabalho Joana correu a chamá-lo para uma conversa particular. Contou tudo e disse que poderia achar o Dito cujo no Bar do Tinoco. Rômulo não perdeu tempo, a mulher ainda não havia chegado da casa de família onde era doméstica, ele iria ajustar as contas com o Rogério, depois cuidaria dela.

Eu só não contava com a covardia daquela homenzarrão, pensei que não teria dificuldades quando puxei assunto com ele:

- Rômulo, meu velho, é hoje, ótima dia para comer Ricardão retalhado não acha?

- Claro, mas nem sei se foi verdade, essa Joana é uma fuxiqueira, já me disseram isso dela.

- A Joana não iria mentir para um homem forte e valente como você Rômulo, por mais que ela goste de contar histórias, não iria se arriscar tanto.

- É, homem forte e valente, eu. Ela não iria, você acha isso mesmo?

- Não apenas acho como tenho absoluta certeza. A única coisa que não tenho certeza é de que você honrará a fama de macho que tem lavando sua honra nessa história.

- Vou honrar, vou sim. Mas nunca é demais querer ter certeza.

E a conversa se alongou assim, ele sempre duvidando e querendo certeza. Sua dúvida aumentou mais ainda quando viu no bar o Rogério cercado por 12 amigos, fazendo alguma espécie de comemoração. Precisava providenciar uma arma para aquele molenga, consegui isso convencendo um velho policial de como seria mais cômodo tomar sua cerveja se afrouxasse um pouco o coldre de sua pistola, que já estava incomodando após 12 horas ininterruptas de serviço. Rômulo não sabia atirar, mas eu cuidaria disso.

Foi quando o policial afrouxou o coldre que vi a morte chegando. Notei que a hora havia chegado e dei o golpe de misericórdia, voltei minha voz macia para Rômulo e mostrei-lhe a arma. Se fosse rápido o policial não iria conseguir impedi-lo.

Seus olhos vermelhos de homem bêbado traído olharam a arma com muita atenção. Por um momento pensei que ainda teria que conversar mais um pouco para convencê-lo. Mas, de súbito, ele puxou a arma com força da cintura do policial, que ficou atônico quando tentou tomá-la a tempo e não conseguiu.

- Atire em todos eles, Rômulo, atire nesses miseráveis para pagarem por sua dor! – Bradei ferozmente para ele, nos milésimos de segundo em que todos os olharam aterrorizados sem saber o que ele faria.

O que ele fez foi muito rápido, mas deu tempo de soltar uma última frase para todos ouvirem:

- Um desgraçado a menos no mundo. – Falou enquanto enfiava a arma na própria boca e atirava.

Com os pedaços de seus miolos, voaram toda a minha empolgação. Estava paralisado de surpresa quando a morte se aproximou sem pressa para fazer seu serviço.

- Coisa feia o que você fez hein? Mas não se deu bem afinal. – Me falou o Ceifador.

- Não venha me dar lições de moral papa-defuntos. O que posso fazer se depois que você levou Hitler e minha maior obra nesse mundo se encerrou restaram apenas serviços pequenos?

- Até te entendo. Mas, francamente, você não consegue mais nem provocar uma briga de bar? Esperava mais de você Guerra.

- Seus insultos não me abalam, não tenho culpas se o imbecil era um suicida. – Respondi enquanto cortava a conversa e me afastava. Eu até o entendia. Ninguém nunca deu tanto trabalho a ele quanto eu. Sou a maior causadora de mortes que já existiu. Guerra. Alexandre, Napoleão, Hitler, todos manipulados por mim. Mas esta cada vez mais difícil arranjar um grande líder belicista. Tentei tempos atrás com um tal de Bush, mas a burrice do sujeitinho era tanta que parece até que me contagiou. O Ceifador tinha até razão. Uma briga de bar? Olhe bem para você Guerra: falhando em uma briga de bar. Preciso me cuidar. E como preciso. Daqui a pouco estarei organizando rodinhas de pancada no jardim de infância.

14 de mar. de 2012

Autonecrografia


Livrai-nos de todos os males ó pai... Dai-nos hoje tua paz...

Hoje eu rezo sozinha meu terço de sementes de oliveira. Uma velha freira no alto da torre de uma imensa catedral repleta de adornos dourados. Quando jovem, via Deus no brilho do ouro. Hoje sinto nesse templo apenas  um vazio tão grande quanto aquele que segue dentro de mim. As rugas na minha face se contraem mais ainda e lágrimas escorrem por meu rosto: que fiz de minha vida? Porque não  consigo mais sentir tua presença aqui? As imagens que antes eram a face dos anjos e santos me observando, agora são apenas imagens. As velas que eram a luz de Deus guiando meus passos, agora não passam de velas. Vejo que não dá para se manter cheia de graça após ver o que vi. Se tu existes, perdoe meu ato. Um minuto de dúvida para mim é pior que a eternidade nas chamas. Pulo.

Ajudados pela tua misericórdia...

- Existem várias formas de servir a Deus meu filho. – Falou o padre para um de seus alunos de catecismo.
O garoto nada respondia, apenas o olhava fixamente.
- Algumas pessoas escolhem a forma que irão servir, outras Deus mesmo escolhe por elas.
- Qual delas você quer ser? Quer ser um escolhido de Deus?
Mais uma vez o garoto nada falou.
- Sei que você não pode responder filhinho, mas pelo menos não me olhe com esse ar de medo, eu não sou mal, quero apenas o seu bem, sou a ponte entre você e Deus. Conduzirei você até ele.
A criança o olhava, lágrimas silenciosas agora escorriam de sua face.
O Padre então fez o sinal da cruz, pegou seu punhal, passou a língua na lâmina como para sentir o sabor, observou mais uma vez o corpo ofegante do garoto amarrado na mesa de sacrifício improvisada no porão e desferiu o golpe fatal.
- Recebe senhor, em teu seio essa alma pura, que eu salvei das maldades do mundo. Se vivesse seria corrompido, mas eu o envio de volta para ti, e assim ele se torna um anjo. – Falou o padre ritualisticamente enquanto aparava o sangue da criança em uma taça e o levava à boca.

Que sejamos livres do pecado...

 - Mas pastor, não posso mais mesmo? Nunca mais?
- Você está duvidando da palavra do próprio senhor? Não ficou claro nas escrituras que só uma vez deve casar o homem? Que se relacionar com outra mulher é cair em pecado? E cair em pecado é ser lançado no inferno?
- Ficou claro sim, pastor, desculpe.
- Então vá para casa descansar,entregue-se ao Senhor que ele sabe melhor que você o que é melhor para sua vida.
A esposa havia fugido com outro, astúcias do inimigo. E agora ele estava condenado a passar o resto da vida sem uma mulher. 6 meses que ela fugira. 4 filhos para criar. 3 aluguéis atrasados. 10 minutos para ocorrer uma tragédia. Após finalmente perguntar ao pastor se não podia procurar o carinho de outra, ele chorou. Onde havia errado? Que deixara de dar à esposa para ela abandoná-lo dessa forma? E ainda mais com todos os filhos.
Não havia mais o que pensar, pegou a faca mais afiada da cozinha, dirigiu-se ao banheiro, despiu-se totalmente e por fim se mutilou. Ele não mais iria pecar, não mais.

Protegidos de todos os perigos...

- Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do espírito santo. – Falou o padre jogando água sobre a cabeça da pequena menina. Seus pais a seguravam e a mãe chorava de emoção. Ao termino a garotinha sorriu e a mãe colocou um terço de sementes de oliveira ao seu pescoço.
- Meu milagre de Deus, minha filhinha. Será uma grande serva do senhor e rezará nesse terço durante toda a sua vida.

Enquanto vivemos a esperar... Tua vinda...

O vento forte bateu contra meu rosto. O vento me lembrava liberdade. Meu corpo era então uma pluma solta no ar sem destino. Eu vôo, pelo ar e por meus pensamentos, cruzo uma árvore de minha infância, e lá vejo os anseios que não alcancei, uma janela da adolescência me mostra tantos projetos inacabados. O primeiro beijo que não deveria ter ocorrido passa por mim como uma folha que flutuava ao meu lado. Tantas janelas, tantas coisas que vivi, deveria mesmo ter tido um fim? O fim, ele se aproxima, sinto isso, apesar de não vê-lo. Meu coração bate forte e me entrego à sensação de que nada mais posso fazer e então tudo se dissolve.
Quando retorno, não sou mais eu. Meus ossos estão espalhados pelo chão, e meu sangue escorre entre eles. Eu sou o sangue, eu sou os ossos, eu sou alma dilacerada e jogada naquelas pedras. 
 Eu que tão pouco falava. Uma palavra ou duas. Mas deixava que frases inteiras me saltassem dos olhos. Só Deus as lia, e quando não mais o senti foi como perder a única razão de existir. Que a amargura tenha sido varrida de mim, e que meus sorrisos não mais assustem a mim mesmo. Se aproxima a portadora da foice, sorri e me pega pela mão. Sigo como uma criança a quem será apresentado um novo parque de diversões. Se estiver me ouvindo agora, desculpe pelo incômodo.

Teu é o reino, o poder e a glória para sempre.

4 de mar. de 2012

Experimentação Mágica - Uma Introdução aos Estudo dos Protocolos de Magia


Existem duas formas básicas para alguém evoluir seu nível de conhecimento: o estudo e a experiência. Nenhuma é superior a outra, são equivalentes e complementares entre si. O estudo sem a experiência se torna estático, evoluindo apenas dentro daquilo que já se sabe, a experiência sem o estudo perde fundamento e se torna difícil de difundir para além da esfera de conhecimento pessoal de quem a teve. Na magia esses dois conceitos são muito importantes, uma vez que o que define se alguém é um mago ou um estudante de ocultismo, é exatamente a forma como ele enriquece seu conhecimento acerca de magia. O mago lida com estudo e experiência, o estudante de ocultismo preocupa-se em apenas acumular conhecimento a respeito.


Essa é inclusive uma excelente questão para quem está iniciando ou está no meio do caminho refletir a respeito. O que você quer com a magia? Apenas entende-la? Estudá-la? Ou você pretende praticar a magia, sentir a magia, ser a magia? Se você escolheu a primeira opção, não é algo que o diminua, cada um é livre para conduzir seus conhecimentos para onde sua consciência o dirige. Mas se você escolheu a segunda opção, esse texto foi escrito exatamente para você.

E o que é experimentação mágica? A experimentação mágica vai além da prática regular da magia. O mago comum ele pratica aquilo que está nos grimórios, aquilo que alguém descobriu e escreveu como se faz. O mago experimentador vai além disso, ele busca novas formas de realizar a magia, novos caminhos mágicos para trilhar. Alguns diria que o mago comum que falo é o mago tradicional e o mago experimentador seria o mago do caos. Não concordo completamente com isso pelo seguinte fato: muitos que se dizem caoístas são na verdade magos comuns, apenas praticam os conhecimentos já estabelecidos por magos do caos que vieram antes deles. O cara que desenvolveu a forma de criar servidores, ou de criar sigilos, era um experimentador, os que só praticam o que ele ensinou são magos comuns, mesmo sendo magos do caos. Isso é até um contrassenso, considerando que o propósito maior da magia do caos é exatamente você desenvolver sua própria magia, usando os elementos que lhe convierem. Digamos que esses propósitos maiores do caoísmo sejam sim princípios da experimentação mágica, mas com uma análise mais apurada, vemos que nem todos os magos do caos realmente o seguem. Falar que nada é verdadeiro e tudo é permitido é ótimo para criticar as crenças alheias e os magos tradicionais, mas na hora de arregaçar as mangas, colocar a massa cinzenta pra funcionar e fazer sua própria magia, eles tossem, olham para o lado e fingem que o assunto não é com eles.

A experimentação mágica possui vários níveis, você pode apenas testar de uma oração em latim funciona se for traduzida para português. Se o ritual para convocar o deus do trovão grego funciona para o deus do trovão nórdico. Se a vela branca pode substituir a vela azul em um ritual. Pode ir mais além, criando um alfabeto mágico particular e o usando nos seus rituais. Criar uma forma diferente de elaborar sigilos, ou de criar servidores. Ou pode realmente chutar o balde, criando uma nova forma de manifestar a magia no mundo, um novo sistema de magia, uma nova escola e etc.
A experimentação também pode se dar a partir da reformulação de paradigmas existentes, interagindo entre si ou com elementos completamente diferentes, ou a partir do desenvolvimento de paradigmas completamente novos.

Porque a magia deve evoluir? Porque devemos nos dedicar à experimentação mágica pra produzir novos conhecimentos em magia? Simples, nada no mundo foi feito para ser estático, ainda mais a magia, que é revolucionária por si só ao dar ao homem a função de compreender e interagir com o universo e as forças que o rodeiam, não aceitando passivamente as respostas pré-fabricadas que lhe forem fornecidas. Aos que acham que tudo que havia para ser descoberto na magia já o foi, eu digo que se todos os magos do passado pensassem assim, a própria magia teria morrido antes mesmo de nascer. Querem sempre melhorar, seja de salário, seja em conhecimento, seja de carro, seja de emprego, é o que impulsiona o homem a evoluir, e o que evolui o próprio planeta. Porque a magia deveria ser diferente?

Esclarecido o que é a experimentação mágica, posso agora falar dos protocolos de magia. Os protocolos são uma forma de experimentação mágica na qual venho trabalhando. Não se trata de nada revolucionários nem nunca antes visto na televisão, é apenas uma sistematização de alguns conceitos espaços de forma a permitir o uso de tal sistema para criar novas maneiras de praticar magia, ou como alguns podem ver, praticar velhas formas de magia adaptando-as a novos elementos que o mago deseje usar.

Não se trata de nada complicado, de início pode ser difícil separa-los de outros sistemas como os sigilos ou até mesmo os servidores, porém, superada esse etapa inicial os mesmos podem ser converter em um elemento útil para utilização nas mais diversas práticas e para os mais diversos fins.
Protocolos podem ser classificados como mapas. Imagine a magia como um território selvagem e não desbravado, seja onde for que você entre, nunca saberá onde vai chegar. Os protocolos seriam mapas, que ao serem seguidos, te levarão certamente a um lugar pré-determinado. Traduzindo, imagine que você realiza um ritual para se conectar com seu animal ancestral ou uma divindade qualquer, esse ritual segue um conjunto de passos, para alcançar um determinado fim, se ao final desse ritual, você conseguisse gravar o caminho que ele percorreu para alcançar o resultado e o gravasse de alguma forma, você teria um protocolo.

A próxima postagem será exclusiva para explicar detalhadamente o que são protocolos e dar exemplos para melhor compreensão. Peço aos que lerem esse texto que deixem suas opiniões abaixo sobre a clareza do que falei. Se deu para entender o que são protocolos, se ficou sem ter a mínima ideia do que são. Se despertou o interesse ou não.

Grato a todos,

2 de mar. de 2012

Ceifador - Sábado e Domingo


Dos muitos inconvenientes que minha ocupação possui, acredito que o principal deles seja a inesgotabilidade do serviço. Certas coisas não se consegue mudar em pouco tempo, uma delas é a sensação de extremo esgotamento que se experimenta após 12 horas seguidas de trabalho, mesmo que você não tenha mais nada que seja capaz de se cansar.

Todas as pessoas, a não ser algumas que considero os mais inteligentes dos humanos e os próprios humanos chamam de excêntricos, possuem uma rotina claramente definida para cada dia da semana. Acordam, ingerem um gordo café da manha, as que podem é claro, vestem-se para algum compromisso costumeiro, colégio, afazeres domésticos, trabalho, etc. Vão para esse compromisso, param ao meio dia para o sagrado almoço, continuam com outro ou o mesmo compromisso, voltam para casa a noite e curtem alguns momentos de algum entretenimento inútil como tolos programas de televisão, até acordarem no outro dia para começar tudo de novo. Claro, existem as exceções, mas a maioria delas não são verdadeiras exceções, são apenas variações desse modelo geral.

Enfim, isso é a grande regra dos dias da semana, é algo tão comum que nunca consigo diferenciar uns dos outros, é como se de segunda a sexta fosse apenas um único e tedioso dia.  A coisa só muda nos finais de semana, nele as pessoas alteram os programas, os objetivos e expectativas. A mesma coisa funciona com meu trabalho, na semana uma coisa, nos finais de semana algo bem diferente.

Assim como em conjunto se diferenciam do resto da semana, sábado e domingo têm cada um suas próprias características. Na semana ocorrem mortes de todos os tipos, um verdadeiro caos de assassinatos, acidentes, ataques cardíacos e coisas do tipo. Já os finais de semana se caracterizam por apresentar uma certa homogeneidade na natureza dos falecimentos.

Comecemos pelo sábado. O sábado é o dia da violência gratuita. Não que haja necessidade de haver um dia apenas para isso, porque os homens estão sempre prontos para serem violentos sem motivo algum em qualquer dia ou lugar, mas no sábado a falta dos afazeres costumeiros lhes fornece bastante tempo  para a prática do esporte favorito da humanidade: a autodestruição.

Brigas, brigas, é só o que assisto nesse dia. Uma festa entre amigos, um churrasco, tudo vai bem até alguém lembrar uma velha desavença, o álcool esquenta o sangue e em pouco tempo tenho um “de cujus” fresquinho para cuidar. Interessante ter citado o álcool, em meus delírios sinestésicos o sábado sempre teve cheiro de álcool e o álcool sempre teve cheiro de defunto. É realmente triste observar a tola surpresa nos olhos de quem estava brincando com amigos e de repente se vê arrebatado da vida, a única coisa que supera tal tristeza é o terrível trabalho que se tem para convencer um bêbado de que ele está morto.

Falemos agora do domingo, dia idealizado e eternizado em música e poesia. Para uns o domingo é o dia da praia, para outros, do almoço em família. Há também aqueles para quem o domingo é o dia do “shopping” ou de um entretenimento alternativo. Já para mim, este é o dia do suicídio, e não posso ser culpado por dar um significado tão fúnebre pra tal dia, porque afinal não sou eu quem comete suicídio, são todas aquelas pessoas do almoço em família, banho de mar, “shopping” e tudo mais.

Suicídio é talvez o tipo de morte mais patético que existe, mais ilógico. Como alguém resolve sair de um mundo sem saber como é o outro? É trocar o certo pelo duvidoso, pular em um buraco escuro sem saber onde fica o fundo, enfim, uma típica atitude desses descendentes dos primatas que se autodenominam homo sapiens.

Os suicídios ocorrem principalmente entre os mais abastados materialmente. É interessante que os pobres sonham em ficar ricos, e os ricos sonham em morrer, é como um tolo que vive aos pés de uma montanha sonhando em um dia chegar ao topo dela, um dia ele consegue fazer isso, só que ao chegar lá em cima percebe que não há nada melhor para fazer além de pular no vazio. Apesar de ser lamentável, alguns episódios interessantes ocorrem, como o caso daqueles muito poderosos que acham que vão passar para o outro lado com o mesmo poder que aqui possuíam. Falando disso lembro-me de um desses casos, uma chata tarde de domingo, o sol castigando o calçadão da praia, uma egocêntrica celebridade em sua mansão sentada diante de um frasco recheado de drogas. Eu a observo de um canto da sala, enquanto ela vai tomando os comprimidos um após o outro, até que eles começam a fazer efeito e ela pode me ver.

-- Quem é você? Como entrou aqui?

-- Sou alguém que odeia clichês, apesar de não conseguir me livrar desse: “sou aquela que nunca falha”.

-- Então, você é a morte?

-- Não, não sou a morte, sou UMA morte.

-- Uma morte? Uma morte veio me pegar? Sozinha?

-- Sim, uma morte, umazinha só. Não quero abalar sua auto-estima, mas estou certo de que é mais do que suficiente para dar cabo de você.

Sei que meu comentário foi muito cruel, mas tenha a meu favor o fato de que não se pode exigir muita paciência de quem passa sábados e domingos trabalhando sem cessar e sem hora extra.


26 de fev. de 2012

Arte, Magia e Oráculos: Uma Tentativa Inicial de Começar um Projeto


Arte

Folhas, borrões e pincéis
Que da mente abrem a porta
A imaginação exorta
Rabiscos e traços fiéis
Sábio e tolo é o artista
Que sua alma revela
Refletindo em branca tela
Seus anseios e paixões
"Amai a beleza do homem"
Está é a lição antiga
Que de seu ser já faz parte
Pra que a arte seja vida
E a vida seja arte



Todo mundo tem algo em que é bom. Eu, sou particularmente bom na arte de cultivar o ócio, conheço muitas e variadas formas  de não fazer absolutamente nada, e isso já me rendeu algumas ideias bem criativas. Enfim, na arte, como na vida, todo mundo é bom em alguma de suas facetas. Você talvez seja um desastre pintando, mas pode ser bom com escrita. Pode ser um escritor de causar pena de tão ruim, mas provocar arroubos de emoção com uma escultura bem feita. Talvez não seja bom em nada disso, mas em algo simples do dia a dia, como arrumar suas HQs ou livros de RPG, ser capaz de um nível de beleza no trabalho que transcende as próprias barreiras que limitam a tarefa aparentemente chata para desaguar no vasto oceano da arte. 

A poesia acima eu fiz há alguns anos para falar exatamente de arte,  tentei colocar meu conceito de arte no papel e o que saiu foi isso. Tenho a ideia de arte como imaginação em movimento, moldando o mundo material. Por isso considero a magia como uma arte, lidar com a magia exige um nível de preparo mental e uma dedicação a seus objetivos dignos dos transes de muitos artistas famosos. Magia não é uma ciência, não pode ser medida, pesada e calculada em todas as suas grandezas, como pretenderam fazer certos estudiosos da magia equivocados. Por isso, para criar magia não precisa ler todos os compêndio clássicos das doutrinas tradicionais. Ao fazer isso você é um mero historiador da magia. A magia vai além disso, é uma emoção, um estado de consciência, uma forma de superar a condição normal do ser humano preso à realidade material. Para fazer magia, você precisa ser livre a ponto se se permitir pensar por si próprio, a ponto de se permitir liberar toda a sua imaginação e destilá-la em arte. 

Quem teve a paciência de ler até aqui deve estar se perguntando onde exatamente eu estou querendo chegar. Escrevi isso para justificar a forma de abordar dois assuntos que desenvolverei aqui no blog. O primeiro será relacionado a oráculos, irei expôr meu ponto de vista individual sobre oráculos, vários métodos, como funciona, como desenvolver, se é dom ou não. Não serão postagens meramente técnicas e sim filosóficas, procurarei discutir como funciona a divinação, a partir de minhas idéias e experiências. Nem tudo é original, e nem tudo todos irão concordar, será minha visão do assunto trazida a público, aberta a comentários, críticas e sugestões, estamos aqui para aprender em primeiro lugar. 

O segundo tema será a experimentação mágica. Pensei em abordar defesa mágica, que é um dos assuntos que mais me interessam, mas não é algo que interessa à tantas pessoas e nem todos 
possuem disposição e preparo para todos os meandros da defesa, que na forma como vejo e pratico inclui alguns conceitos bastante polêmicos aos caoistas. Enfim, procurarei trazer a vocês uma sequencia de informações sobre algumas práticas que utilizo à título de experimentações pessoais. Uma delas é um assunto chamado protocolos, que consiste basicamente no desenvolvimento de chaves e fórmulas mágicas para obter certos efeitos. 



25 de fev. de 2012

Ceifador - O que Sou?


Eu sou a gordura acumulada nas artérias do seu coração que o fará parar após anos de vida sedentária. Sou a bala que sairá do revólver e transpassará seu corpo. Sou a complicação que fará com que você jamais se levante da mesa de cirurgia. Sou o último grão de pó que te levará a overdose.

Eu sou o poste de energia elétrica em que você vai bater seu carro. Sou a faca de cozinha que sua mulher enfiará no seu peito após você pegar ela na cama com o amante. Eu sou aquele choque psíquico que te fará enfartar. Sou as chamas que consumirão sua carne naquele incêndio.

Eu sou aquela casca de banana que te fará cair e rachar a cabeça no paralelepípedo. Sou o veneno mortal que você tomará sem saber. Eu sou a lâmina afiada que romperá sua garganta, fazendo seu sangue escorrer na terra . Sou também a última facada entre aquelas vinte que você levará no abdome.

Eu sou a máquina de refrigerante que vai desabar sobre você naquele momento em que a sede será maior que a prudência. Sou o raio que entre os milhões de locais em que poderia cair resolverá vir diretamente sobre sua cabeça. Eu sou o cadarço do seu sapato mal amarrado, que te fará perder o equilíbrio e cair da escada. Sou aquele ferro com a ponta para cima que estará exatamente naquele local onde você vai tropeçar. Além disso também sou a idade naquele momento em que ela virá cobrar o maior de seus preços.
Eu sou um Ceifador. E você nunca estará totalmente preparado para mim. Eu posso ser qualquer coisa, até aquelas mais improváveis. Criatividade nunca é demais. Sem nenhuma inovação ficará muito fácil evitar-me, e assim meu trabalho tornaria-se terrivelmente chato. Como será que irei encontrá-lo um dia? Você já pensou sobre isso? Chegou a imaginar como seria? Se não imaginou, continue sem imaginar. Pois eu jamais virei da forma que você esperar. Afinal, a surpresa é a alma do negócio.

20 de fev. de 2012

Sobre Teístas e Ateus

Acreditar ou não em Deus é uma questão meramente de fé. Portanto, teísmo e ateísmo são pólos opostos em nível equivalente. A diferença básica do teísta para o ateu é a mesma que existe entre alguém que gosta de melancia e alguém que não gosta.

    Observamos atualmente, de um lado teístas que consideram ateus seres inferiores, egoístas materialistas e amargurados com a vida, pobres coitados que não tem grandeza espiritual o suficiente para notar a presença do criador em todas as coisas. Do outro lado, temos ateus que consideram teístas pobres coitados dominados pela alienação, que precisam da crença em um ser invisível para mascarar suas fraquezas e incapacidade de enfrentar os problemas da vida por conta própria. Uns consideram os outros tolos, talvez sejam ambos igualmente dotados de tal defeito.

    Podemos dizer sem medo de errar, que a questão da existência ou não de Deus nunca terá um fim, Pelo simples fato de que ambas as hipóteses são paradoxais. Antes de continuar, é preciso ficar claro que ao falar de Deus, não me refiro ao Deus judaico-cristão nem a nenhum outro em particular, e sim a um planejador inteligente da criação, seja qual for sua forma. Primeiro, suponhamos que Deus não existe. Como ficaria então a posição de quem acredita nele? A primeira e mais obvia das conclusões a serem tiradas é a de que muitos destes jogaram uma vida inteira fora, pois se Deus não existir, para que serviram todas as guerras, conspirações e massacres feitos em seu nome? Há quem não beije antes do casamento pensando agradar a Deus com tal gesto. Quanto tempo, esforço e palavras perdidas. A inexistência de um planejador inteligente da criação como acima citado, não contraria nada que a ciência descobriu até hoje, pois não existe nenhum fato no universo que não possa ser atribuído ao simples acaso, por mais inteligente e proposital que este pareça, sempre haverá a probabilidade de ter sido obra do acaso. Assim como nenhum grande fato atribuído a Deus foi provado sem deixar margens para duvidas, seja por estarem perdidos nas malhas do tempo, seja por faltarem quaisquer outros tipos de evidencias indispensáveis.

    Analisemos agora a 2ª hipótese: Deus existe. Se deus existir, se existir um grande arquiteto do universo, uma planejador inteligente, isso também não estaria contra nenhum conhecimento dominado pela espécie humana na atualidade. A ciência não consegue explicar muitos fenômenos presentes no universo, conforme citado, todos poderiam ser obra do acaso, mas nada impede que pudessem ser também obra de uma força criadora inteligente. Não temos provas de nenhuma das duas hipóteses sobre Deus, apenas evidências e argumentos. Está claro que a idéia da existência de Deus surgiu inicialmente da ignorância do homem em não saber explicar fenômenos naturais simples como trovões e a passagem do dia para a noite e essa idéia foi evoluindo a medida que as necessidades do homem mudaram, prova disso é o sucesso de denominações evangélicas neo-pentecostais que exploram a fraqueza do homem perante os apelos materiais.

    Alguém certa vez disse que a religião de uma época é motivo de risos da época seguinte. Essa é uma verdade que podemos ver confirmada através dos tempos. Os deuses de uma época são sempre vistos como infantilidade pelos que vêm depois, assim como as necessidades, usos e costumes dessa época. Na idade média, existiam pessoas capazes de dar grandes somas em troca da salvação da sua alma, hoje, as pessoas riem disso, mas fazem coisas igualmente ridículas, como dar tudo que possuem em um templo achando que Deus irá multiplicar e dá-las novamente em recompensa.

   Voltando ao assunto principal, o fato de Deus ter surgido da ignorância do homem não exclui a idéia de sua existência. Tanto é que são raros os ateus que conseguem discutir com argumentos realmente bons a existência de Deus fora do plano religioso. E isso não é um desafio, apenas uma constatação. É muito fácil refutar a existência do Deus bíblico, porém a coisa muda de figura quando o foco é alterado para uma discussão cientifica ou filosófica. E a explicação para isso é que se Deus existir, seus atos, motivações e planos estariam simplesmente acima da compreensão humana.

    Para tornar a questão mais clara, tomemos o seguinte raciocínio. Consideremos um ateu que afirma não acreditar em Deus por que não existem provas cientificas da existência do mesmo. Para a ciência provar algo, este algo precisa ser explicado em todas as suas nuances, em outras palavras, precisa ser medido, pesado e examinado de todas as formas. Ora, se Deus existir, ele é infinitamente superior ao homem em qualquer uma das qualidades conhecidas por este. Então, se a ciência o desvendar, ele se resumirá a apenas uma força que pode ser explicada através de leis constantes, como a gravidade, deixando então de ser Deus.
    Em virtude disso, se Deus não existe, isso não pode ser provado, e se existe, também não pode ser provado. Resumindo tudo, podemos dizer que tanto o teísmo quanto o ateísmo são simples questões de fé. A ciência e a razão fornecem argumentos para ambas as correntes. Um individuo que se deixasse guiar apenas pela razão e a ciência diria ao ser perguntado se Deus existe: “não sei, não há provas para nada”. Um indivíduo guiado pela fé pode dar duas respostas, “sim” ou “não”. O que dirá sim será o teísta, o que dirá não será o ateu. Aquele que se coloca fora da esfera da fé, será o verdadeiro seguidor exclusivo da razão. Se alguém assim existir, só terá certeza de uma coisa: com relação a Deus não se pode ter certeza de nada. Por uns não poderem refutar definitivamente os outros, teístas e ateístas tendem a estar sempre a travar combates de idéias, jamais um convencendo o outro de seus pontos de vista. Por serem árvores firmadas no mesmo tipo de terreno. Uma idéia que parte de certos pressupostos e evidências, sendo solidificadas pela crença direcionada para uma ou outra corrente.

19 de fev. de 2012

Meio Quilo de Medo





Perseguido. Isso mesmo, ele estava sendo perseguido. Não adiantava sua mãe e sua irmã dizerem que era tudo fantasia. Não adiantavam todos aqueles remédios que deram no sanatório após ele ter sido internado. Nada, absolutamente nada que lhe mostrassem ou falassem, iria convencê-lo de que tudo estava bem.

Tudo começou quando viu aquele cara com o facão no jardim. Era um dia como outro qualquer ele estava se arrumando para ir ao colégio, último ano, no próximo faria faculdade, estava deixando de ser um adolescente irresponsável. Foi então que ao sair do banheiro, após escovar os dentes, viu no jardim aquele homem segurando um facão e olhando para ele. Parecia um jardineiro pelas vestes e pelo próprio facão, velho e gasto. Aparentava ter uns 30 anos e naquele momento não o perturbou. Sua mãe deveria ter contratado alguém para aparar aquela grama, já não era sem tempo.

Desceu para o café. Estava meio que apressado para variar, tão apressado que quase não viu que ao invés do tigrinho simpático que deveria estar na caixa de cereal, havia uma caricatura de tigre sorrindo desdenhosamente para ele e segurando um facão, aquele facão. Seu susto foi tão grande que a cozinha ganhou uma nova e exclusiva decoração com farelos de flocos de milho por todos os lados.

Ele levantou apressado, olhou para o chão e ali estava uma caixa como outra qualquer, pulou da cadeira e correu para o carro de sua mãe, deixando com a empregada a tarefa de limpar tudo. Olhou para fora, não havia ninguém com facão nenhum, devia estar imaginando coisas, devia ser a rotina no novo colégio, malditos professores, queriam que ele passasse o ano sem se divertir, só estudando.

Sua mãe o deixou em frente a escola, já nem lembrava do ocorrido:

- Beijo filho, até mais tarde.
- Beijo mãe, obrigado.

Aula de matemática, alguém lá em cima devia estar com raiva dele para colocar logo esse matéria na primeira aula do primeiro dia da semana. Se havia uma forma pior de começar a semana além de uma aula de matemática, ele sentiria muita pena do desgraçado que a experimentasse. Sentou no fundo da sala para fazer o que sempre costumava fazer nessa aula, tirar uma soneca. Se sacanearam ele com o horário de aulas, não custava descontar um pouco.

Se soubesse o que ocorreria, jamais teria tirado aquele cochilo.

- Que coisa feia, dormindo em aula, acorde, acorde. – Ouviu o professor falar.
- Acorde, acorde, acorde, acorde.... – Foi o coro dos alunos em resposta.
- Pô, pessoal, não precisa exa...- as palavras nunca chegaram a sair da sua boca, pois quando erguei a cabeça, estava cercado pelos 45 alunos da sua sala, todos de pé e vestindo roupas surradas, assim como o professor, e cada um segurava um facão enquanto gritava para que ele acordasse.

O som de seu grito riscou sua própria alma, e talvez a partir daquele momento tenha surgido a rachadura nela que ocasionou sua loucura. Saiu correndo desvairado pela escola, gritando pra deixarem-no em paz. Parou ao se esbarrar com um dos guardas do colégio, que o segurou. Logo vieram vários colegas para ajudar a segurá-lo, ele apenas gritava, mais aos poucos foi voltando ao normal e verificou que não havia ninguém com nenhum facão por perto, seu professor estava vestindo uma roupa colorida de péssimo gosto como sempre, nada que lembrasse as roupas cinzas que vira antes. Os colegas de sala também estavam ali, olhando para ele embasbacados por não entender nada do que estava acontecendo.

Sua mãe foi chamada, levaram-no a um psiquiatra.

- O estresse o vestibular senhora, seu filho não resistiu, isso foi uma grave exteriorização da fadiga dele. Vou passar dois bons remédios que resolverão a situação. – Falava o médico  diante dele e de sua mãe.
Saíram do consultório. Sua mãe visivelmente aliviada, ele ainda aéreo por tudo que ocorrera. Era tudo tão real, como poderia ser apenas um sonho? E o homem no jardim, e a caixa de cereal? Nada parecia encaixar, mas ele confiava que os remédios iriam fazê-lo melhorar. Era com essa fé que se encontrava quando foi passando pela recepção da clínica psiquiátrica e fitou a televisão que ali ficava para os pacientes em espera assistir.

Era uma série de TV que passava. Uma família sentada a uma mesa e dizendo piadas sem sentido. Então algo chamou sua atenção, por trás da mesa, sem nenhum membro da família ver, estava o homem do jardim som seu conhecido facão, ele o encarou, e foi correspondido, aquele sorriso desdenhoso do tigre da caixa de cereal estava bem ali, na TV. Foi demais para sua mente, não conseguiu compreender aquilo, nem aceitar, então ele simplesmente parou ali, encarando a TV, sem pronunciar uma só palavra.

Seis meses no sanatório, foi isso que ganhou. E cada vez piorava mais. Agora via pessoas com o facão por toda parte, pela janela, na televisão, em reflexos no espelho, nunca se aproximavam, apenas ficavam ao longe segurando o facão enferrujado e rindo desdenhosamente para ele.

Pensou que ficaria a vida toda naquela situação, mais ainda pioraria. De alguns dias para cá todos portavam os facões. Não deixava ninguém se aproximar dele, parece que vinham quando dormia e aplicavam agulhas nele, durante o dia ninguém ousava entrar em seu quarto no sanatório. Precisava sair dali, parece que aquelas pessoas do facão o aprisionaram naquele quarto apenas para aterrorizá-lo, nem sua mãe via mais.

Durou várias semanas com as pessoas do facão olhando para ele pelo vidro da porta de seu quarto. Ou entrando e ficando paradas no portal por vários  minutos até sair. Achou que seria assim o resto da sua vida, mas um dia aquele mesmo homem no jardim, do primeiro dia, lá entrou e ficou parado olhando para ele. Ele apenas olhou com medo como sempre, sem nada falar.

- Oi. – Falou o homem em um sorriso debochado.
Ele nada respondeu, há muito esquecera como falar, apenas emitia sons guturais de horror de vez em quando, mais até esses eram raros, pois o horror ficou tão constante em sua vida que gritar de medo se tornou enfadonho.

- Vamos, fale algo, não quer me perguntar nada? – insistiu o homem.
Diante de novo silêncio, o homem voltou-se para a porta e falou:
- Sil, pode entrar, ele está pronto.

Entrou então no quarto uma criatura que mais parecia um morcego, e a visão dela mereceu um sonoro grito de horror, aquela coisa não poderia existir, o homem do facão era assustador, mas era uma pessoa, já aquilo. Parecia a mistura de um morcego com um anão deformado. Possuía cerca de um metro e meio, sua boca parecia ser na vertical e não era possível identificar nariz ou orelhas, tão o nível de deformidade. Asas de couro apodrecido lhe caiam nas costas, e não pareciam nem um pouco capazes de fazê-la voar.

- Já não era sem tempo Fregen.- Falou a criatura grotesca quando entrou. – Seis meses engordando esse aqui.
Ela então o encarou, a criatura chamada Sil. Ao mesmo tempo em que puxava das suas vestes imundas aquilo que ele conhecia muito bem. O velho facão, idêntico ao que o homem chamado Fregen carregava na mão.

- Vamos criança, olhe para mim, olhe para mim. – Gritou Sil desvairadamente enquanto sacudia a faca para ele, como se fosse atacá-lo.

Começou a gritar, mas aos poucos foi engolindo seu grito pois o terror que tomou conta do seu corpo era de tal magnitude que o fez esquecer de gritar, esquecer de se sacudir, esquecer quem era ele mesmo. Ficou em estado catatônico e apenas uma emoção continuava viva dentro dele: o medo.

- Vamos Fregen, se apresse, passe o frasco. – Falou Sil rispidamente enquanto tomava das mãos de Fregen um frasco parecido com um tubo de ensaio de prata com uma rolha de cortiça.

Sil então pulou na cama onde ele jazia inerte e cravou a faca em seu peito, abrindo seu tórax ao meio com ele ainda vivo, e puxando para fora o coração pulsando. A criatura disforme pareceu admirar por um instante o órgão que segurava com mão, e então tirou a rolha de cortiça do tubo de ensaio e cravou o facão no coração do rapaz, caputurando todo o sangue que escorreu no tubo.

Isso não durou muito tempo. Então diante de um atento Fregen, Sil voltou ao chão e entregou-lhe o facão. Sorriu contente para o tubo e pegou dentro das vestes um pequeno frasco com um líquido tão cristalino que lembrava lágrimas, pingando uma gota do tal líquido dentro do frasco com o sangue.

- E então Sil.- Perguntou Fregen.- Quanto acha que vai render?
- Pelo menos meio quilo de medo, valeu a pena o investimento. 
- E vamos vendê-lo diretamente no mercado faérico? Ou você tem algum comprador particular.
- Não seja idiota Fregen, claro que já tenho um comprador para isso. O que diriam se a gente aparecesse e colocasse meio quilo de medo a venda na mesma prateleira que a coragem e a honra?
- Tem razão. – Respondeu Fregen rindo. – eu não havia pensado em todos esses pormenores.
- Você não é bom pensando Fregen, então procure pensar pouco e agir mais, fazendo aquilo que mando, que as coisas correrão bem para nós. Agora deixe eu me disfarçar de enfermeira de novo e vamos saindo daqui. Que estou com esperanças de conseguir repassar essa mercadoria ainda hoje.