15 de fev. de 2012

A Dança da Criação


No início era apenas o Caos. Isso fazia tudo ser muito chato, chegando inclusive a ser considerado inapropriado para um universo tão promissor. O Caos gerava apenas mais Caos e parecia que nunca iria ter fim.  Até que, em um tempo que nosso tempo não pode precisar, o Caos finalmente resolveu por ordem nas coisas e gerou padrões. Como isso aconteceu, não se sabe, afinal não havia nenhuma testemunha além do próprio Caos, que desde que gerou os padrões se recusa a falar sobre o assunto. 

Eram três os padrões do Caos, e os mesmos não possuíam nome, afinal não existia nenhuma linguagem ainda, mas eles tinham consciência, e nessa consciência, a primeira coisa que constataram sobre o lugar onde viviam foi:

--- Poxa, não há nada para fazer aqui, isso está uma chatice.

Dedicaram-se então a pensar em uma forma de quebrar aquele terrível tédio, isso foi  a tarefa mais hercúlea que já foi desempenhada em todos os tempos, pois nem sequer o jogo de paciência existia. Até que:

--- Espere, porque não fazemos uma dança? – Perguntou um Deles.
--- Dança, o que é isso? – Interrogaram em resposta os outros dois.
--- Dança são movimentos rítmicos e planejados que se faz seguindo um padrão sonoro.
--- Legal, ótimo, perfeito. Mas... O que seria mesmo esse negócio?
--- Foi uma coisa que veio na minha cabeça agora.

Era muito difícil de explicar, porque era algo nunca antes visto, então, o padrão nº 1, que havia imaginado tudo, resolveu demonstrar.

--- Olhem, é algo mais ou menos assim :
“Aommmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm.

--- Cantou com uma voz muito poderosa enquanto fazia alguns movimentos com os braços e pernas.

Súbito, todos se espantaram, pois sentiam que a música vibrava dentro deles, e aquilo fez algo nascer, um pequeno ponto de luz se gerou no Caos, tão minúsculo que de início mal notaram ele, mas foi se expandindo de forma espantosa, saindo do coração dos 3 padrões, de forma que eles se sentiam parte daquela luz em expansão, como um filho que acabava de nascer.

--- Ótimo --- Falaram os outros animadamente --- queremos também fazer parte disso.
--- Certo, falou o primeiro, mas temos que dividir funções, se todos fizermos as mesmas coisas, irá ficar uma bagunça, é melhor formamos tipo... UMA BANDA!

--- Banda? O que é uma Banda?

--- Esqueçam, por favor. Olhem, vamos fazer da seguinte forma, eu serei o compositor, o criador, escreverei todas as partituras e o ritmo da dança, irei fazer a dança da criação, vou criando e mostrando como se dança. Você, padrão 2, irá me acompanhar, procurando manter minha dança firme, sustentando toda a teoria que colocarei nas partituras para que as coisas não saiam dos eixos. E você padrão 3, irá prestar atenção em todos os passos da dança, para então tirar as partes que precisem ser tiradas. Fazendo a dança da destruição, onde você nos mostra como fica a dança após as modificações que resolver fazer, deixando brechas nas partituras para inserir novos passos para o padrão 2 dançar, formando novamente um todo, para novamente você corrigir. Dessa forma, a dança nunca terá fim, e ficaremos ocupados até o fim dos tempos.

--- Tempo, o que é tempo?
--- É só um dos passos de dança que acabei de criar. Enfim, entenderam tudo?
--- Sim --- Responderam os outros em uníssono.
--- Certo, então a partir de agora temos novos nomes, eu sou o Criador da dança, o 2 é o Mantenedor da Dança, e o 3 é o Destruidor da Dança.

--- Destruidor? Que nome horrível, parece que vocês fazem tudo certinho e eu venho e                 estrago tudo, quando na verdade eu vou apenas renovar constantemente a dança, para ela nunca ficar chata.
--- Tem razão, então vamos chamar você de o Transformador.
--- Eu prefiro Transmutador.
--- Que seja. Vamos começar agora então?
--- Vamos!

Então os três começaram a dançar, o primeiro som emitido como teste pelo Padrão 1, o “Aummmmmmmm”, se tornou a primeira nota constante, dessa nota, surgiram mais duas que deviam estar presentes em toda a música, a nota tempo e a nota espaço, sendo que uma era definida em função da outra, sendo até difícil imaginar como seria se o som de uma fosse emitido de forma isolada. Havia ainda outras notas importantes, que davam fundos sonoros a essas notas, a nota da luz, as 4 notas dos 4 elementos, que combinadas, geravam sons maravilhosos que iam e vinham de forma bem rápida, deixando um sopro de nostalgia nos ouvidos dos 3 padrões. Esses pequenos sons ganharam nome de acordo com sua     duração e o movimento que era feito para executar seus passos de dança, uns foram chamados galáxias, outros estrelas, outros planetas, assim como infinitas outras entonações e passos de dança que se perdiam uns dentro dos outros.

Sempre que um desses sons não estava em harmonia com os outros, ou simplesmente havia chegado o momento de seus passos de dança deixarem de ser executados, entrava em ação o terceiro padrão, que criou diversos passos de dança e sons que encobriam essas partes a serem eliminadas. O mais interessante, é que o Destruidor; ou Transmutador, como ele prefere, inseriu esses passos em movimentos que já haviam sido criados e executados pelos outros dois. Na dança do tempo, ele inseriu os ritmos do envelhecimento. Na dança da vida, ele inseriu os sons e ritmos da morte, que liberava espaço para a vida sempre se renovar.

E a dança foi crescendo e crescendo, até que, combinando várias notas, agrupadas ao redor dos movimentos dançantes da vida, surgiu a vida consciente.  Isso deixou os 3 padrões muito contentes, pois essa parte da grande dança era capaz de reconhecer a música deles, conseguiam notar a dança sendo executada por todas as partes e deram nomes a muitas coisas. A dança como um todo, chamaram de realidade, embora eles conhecessem no ínicio apenas alguns pequenos passos, seus conhecimentos foram se expandindo com a passagem do tempo, e assim o conceito de realidade se expandiu, de acordo com as novas notas e ritmos que iam descobrindo.

Foram crescendo e crescendo essas pequenas notas e ritmos, chegando a inserir pequenos movimentos na dança dos 3 padrões. Alcançando tal sucesso nisso, que muitos cometeram o erro de achar que não eram partes da dança, e sim única e exclusivamente compositores. Dessa forma, Passaram a inserir passos, notas e sons na dança, que destoam completamente da dança original, e por isso destinam-se a serem eliminados pelo Transmutador, que depois de bilhões e bilhões de anos se tornou um ótimo crítico musical.

Isso talvez esteja prestes a acontecer, e os passos de dança destruidora já podem estar sendo ensaiados. Resta esperar que essas pequenas notas que se autodenominam homo sapiens, aprendam a compor corretamente observando a música e a dança executadas constantemente ao seu redor, para assim ficarem em total harmonia com o belo ritmo dos padrões, que são tão gentis em tocarem e dançarem para todos, que devem estar incrivelmente chateados com tamanha falta de respeito.

3 comentários:

  1. Muito interessante esse conto dançante. Realmente inspirador!

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    1. As vezes eu penso que eu estava com alguma espécie de lombra causada por ingestão exagerada de danoninho quando escrevi esse conto, rsrsrsrsr

      obrigado pelo elogio Wanju.

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