22 de abr. de 2013

Magia Brasileira - Conceitos e Preceitos



Assuntos Abordados nesta postagem:


1. O que é Magia Brasileira
2. Para que Serve a Magia Brasileira
3. Divisões da Magia Brasileira
4. O limite entre Crendice e prática mágica


É andando na mata
é olhando pro céu
que eu sinto a magia
que eu rasgo este véu


1. O que é Magia Brasileira


Para falar de magia brasileira em primeiro lugar se faz necessário dizer o que chamo de magia e a partir daí construir uma definição precisa do que poderíamos chamar de magia brasileira. A definição de magia que apresento abaixo é a mesma que coloco em todos os artigos em que o assunto é tratado relacionados em magia e encontra-se retratada também em uma postagem do blog:

A Magia, o próprio nome possui uma carga de sedução tão poderosa, que eu gosto de as vezes pronunciar apenas para ouvir o som que o mesmo provoca. Magia, para mim, é a arte de interagir e manipular as forças desconhecidas da natureza, interior e exterior ao homem, isso em sentido estrito. Em sentido amplo, e eu gosto desse sentido amplo, Magia é tudo que dá um “tapa na cara” da realidade instituída, ou seja, que mostra o que está sob o véu do que as pessoas acham que é real. Desse ponto de vista, a aparição de uma fada é magia, a criação de um servidor é magia, o acesso a um outro plano através da meditação é magia, até um milagre realizado por um religioso é magia.


Creio que a magia possua dois processos básicos, interno e externo. Em primeiro lugar, você precisa acreditar internamente na magia, desenvolver sua mente, seu ser, para entender e acessar as forças desconhecidas, para então interagir com elas. O poder de um “mago” se resume a dois fatores: talentoXestudo. Alguns nascem com pré disposição para a coisa, mas não estudam e nunca desenvolvem, outros nascem sem praticamente nenhuma inclinação, mas se interessam e vão longe.


O poder mágico então, se dá por uma conjugação de dois processos,  desenvolvimento interno e o acesso à energias externas (sem contar no acesso às energias internas também, algumas pessoas possuem energias internas super potentes e devem usá-las com bom planejamento para desenvolver ainda mais seu poder mágico).


Considerando a magia como possuidora de elementos exteriores ao indivíduo, podemos afirmar que ela pode ocorrer independente da vontade do indivíduo. A magia pode lhe atingir quando você menos esperar. Ela pode chamá-lo para desvendar seus mistérios. Ela pode envolver sua vida até você não ter escolha senão explorá-la. Ela esta  na natureza, independente de sua vontade. Esta na floresta, nas águas, no ar, na vida que pulsa por todas as partes. 


Esta nos deuses, em Deus. Acho essa Magia muito mais interessante, mais iluminadora e real que aquela que se resume a técnicas mentais para desenvolver a vontade individual. Por isso acho a maioria das ordens tão pobre de objetivos, não me empolgam, reduzem a magia à manipulação da vontade humana, dão uma supervalorização ao homens, considerando-o grande demais. Sou contra isso, acho que para crescer, o primeiro passo é reconhecer-se pequeno. 

Considerando o conceito de magia fornecido, posso dizer que magia brasileira são aqueles costumes, ritos e práticas de todo tipo que procuram interagir ou manipular com as energias desconhecidas da natureza e da nossa mente que tenham uma raiz essencialmente nacional ou que tenham sido absorvidas no ordenamento cultural de nosso povo de forma a passar a integrar nossa herança espíritocultural.

Para que o conceito de magia brasileira não pareça confuso, irei fornecer um conceito de magia alienígena, ou estrangeira. Magia alienígena é aquela prática que não possui quaisquer elementos locais, cujos valores e paradigmas estão completamente baseados na herança cultural de outros povos. Vou dar um exemplo prático. Se você é um wiccano, isso por si só não te faz um mago praticante de magia brasileira ou alienígena. Se você adota as velhas crenças e práticas de veneração da grande mãe e interação com as energias naturais, está praticando ritos da herança cultural da humanidade como um todo, agora se só utiliza em suas práticas os elementos de referências de outros países, (tem gente que encomenda galhos de árvores europeus para fazer varinhas), ignora completamente as práticas da nossa cultura de venerar a mãe, de interagir com os seres da natureza, então você é um praticante de magia alienígena.


2. Para que serve a magia brasileira


Posto isso, se pergunta, qual a importância de eu usar magia brasileira ou estrangeira?

Esta é uma pergunta muito delicada. Alguns magistas são completamente alienados em relação a magia brasileira, considera o saci pererê e a curupira uma história para crianças e sai pelas matas caçando gnomos escandinavos. Nada contra os gnomos escandinavos, não há nada de errado em utilizar referências estrangeiras. Inclusive uma xenofobia arcana seria uma tolice enorme, porque quando falamos de magia, estamos nos referindo a toda uma herança universal da humanidade que remota a civilizações muito antigas, ter aversão ao que vem de fora é uma verdadeira castração mental.

Porque então estou me dando ao trabalho de falar de magia brasileira e incentivar sua prática? Por vários motivos, um deles é que temos uma herança cultural riquíssima que está se perdendo em vários pontos. Vemos bruxas de shopping pulularem ao milhares pelo país afora, mas dificilmente vemos uma adolescente procurar uma velha benzedeira para aprender o ofício da reza. Magia é antes de tudo, interação mente-universo, então quando procuramos nos desenvolver dentro da magia é indispensável que antes de tudo procuremos conhecer muito bem como nossa mente funciona. Precisamos saber de onde vem nossos valores, nossos preconceitos, nossas crenças, principalmente as mais primárias, os valores que aprendemos quando criança são muito difíceis de serem mudados, ao invés de lutar contra eles, devemos utilizá-los como a poderosa fonte de poder que representam, esse assunto será melhor analisado quando falarmos de magia da fé, para este é necessário apenas que entendamos que os valores culturais de nosso pais estão enraizados profundamente no nosso inconsciente e no inconsciente coletivo de todos que nos circulam, representando uma poderosa fonte de energia que um praticante da arte inteligente não pode ignorar. Está é a importância da magia brasileira, são práticas que evocam as energias das crenças do nosso povo, ao utilizá-las não é apenas nossa mente trabalhando. Para os que diriam que usar magia alienígena é a mesma coisa porque estamos usando o inconsciente coletivo do povo que a originou, eu digo que não é a mesma coisa por um motivo muito simples: apesar de ser óbvio, sabemos que o inconsciente coletivo funciona como um campo fértil para propagar o que esta nele gravado. Se usamos uma prática de magia brasileira sendo brasileiros, estamos programados para utilizar aquela energia, se somos estrangeiros, precisamos de um esforço mental muito maior em virtude de aquelas práticas não estarem programadas em nós como algo real.

Devemos entender que a força mental é algo muito mais profundo que a mente consciente, não é porque eu fico repetindo mil vezes “gnomos existem, gnomos existem” que meu subconsciente vai acreditar nisso e liberar sua energia para a evocação dos gnomos. Agora, se quando eu era criancinha eu cresci aprendendo que os gnomos estão em toda parte, o inconsciente nem mesmo questiona, ele salta e diz “gnomos, aqui vamos nós”.


3. Divisões da Magia Brasileira

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que a classificação que farei aqui é meramente didática e tem como principal objetivo fornecer um norte para o desenvolvimento do tema nesta e em posteriores postagens. Não estou querendo dizer que são as únicas formas de magia nacional nem a maneira mais correta de classificar. Esclarecido este ponto, continuemos.

Essa classificação se faz necessária em virtude de que é com base na mesma que faremos as práticas.

1. Magia Popular: Práticas de magia popular são aquelas desvinculadas de qualquer religião específica e que mesmo assim são usadas no cotidiano das pessoas. É o caso de algumas simpatias, mandingas e costumes. Estão englobados nesse item a maioria das superstições populares.

2. Praticas relacionadas às religiões: são os rituais de magia umbandistas, do catimbó, do camdomblé e até católicos (sim, existe magia católica). É um campo muito vasto e abrangente. Neste item também abordaremos as benzeduras.

3. Experimentação mágica feita por brasileiros. São as técnicas e tradições novas criadas por nossos compatriotas tupiniquins. Vai desde os experimentadores da magia do caos àqueles que inovam em seguimentos tradicionais ou que sem seguir tradição alguma criam novas técnicas. Esse é uma área por demais vasta e em virtude disto não será objeto de estudo desde tema, cabe a cada um que se interesse pelo que é criado de novo aqui que vasculhe a internet e as livrarias em busca, garanto que há muita coisa boa, e muita coisa ruim também. Cabe a cada um julgar o que melhor lhe apraz.


4. O limite entre Crendice e Prática Mágica

Talvez fosse melhor esclarecer este ponto quando da abordagem de práticas populares a ser feita em postagens posteriores, porém, considerei importante esclarecer aqueles que em uma primeira leitura possa ter considerado que estamos falando de meras crendices, sem utilidade para o praticante das artes mágicas.

Sabemos que nas crenças populares está presente uma forte carga da experiência mágica popular de um povo. Nem toda crendice tem uma razão de ser mágica, algumas são simples e meramente crendices na melhor acepção da palavra. No entanto, algumas delas vão além da mera crença, são verificáveis na prática. São passíveis de análise pelo ocultista curioso e investigador. São estar o nosso objeto de estudo. Aquelas crendices que ultrapassam as fronteiras da mera superstição e avocam efeitos reais e comprováveis empiricamente às práticas mágicas de qualquer pessoa. 


Este é apenas o início de várias postagens do blog em que trataremos da chamada magia brasileira, a próxima postagem do assunto será voltada exclusivamente para a prática, então quem desejar arregaçar as mangas e praticar um pouco de magia tupiniquim, absorva os conceitos teóricos e aguarde o que vem por ai.

Entre no clima da Magia Brasileira ouvindo Maria Bethânia:



Letra:

Carta de Amor - Maria Bethânia

Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não

Eu tenho zumbi, besouro o chefe dos tupis
Sou tupinambá, tenho erês, caboclo boiadeiro
Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris
Zarabatanas, curarês, flechas e altares.

A velocidade da luz no escuro da mata escura
O breu o silêncio a espera. eu tenho jesus,
Maria e josé, todos os pajés em minha companhia
O menino deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou

Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não

Não misturo, não me dobro a rainha do mar
Anda de mãos dadas comigo, me ensina o baile
Das ondas e canta, canta, canta pra mim, é do
Ouro de oxum que é feita a armadura guarda o
Meu corpo, garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem e em meu
Coração maria ascende sua luz, e me aponta o
Caminho.

Me sumo no vento, cavalgo no raio de iansã,
Giro o mundo, viro, reviro tô no reconcavo
Tô em face, vôo entre as estrelas, brinco de
Ser uma traço o cruzeiro do sul, com a tocha
Da fogueira de joão menino, rezo com as três
Marias, vou além me recolho no esplendor das
Nebulosas descanso nos vales, montanhas, durmo
Na forja de Ogum, mergulho no calor da lava
Dos vulcões, corpo vivo de xangô
Não ando no breu nem ando na treva
Não ando no breu nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva
Medo não me alcança, no deserto me acho, faço
Cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo
Meus pés recebem bálsamos, unguento suave das
Mãos de maria, irmã de marta e lázaro, no
Oásis de bethânia.

Pensou que eu ando só, atente ao tempo num
Começa nem termina, é nunca é sempre, é tempo
De reparar na balança de nobre cobre que o rei
Equilibra, fulmina o injusto, deixa nua a justiça
Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chão
E pra onde você for não leva o meu nome não
E pra onde você for não leva o meu nome não
Onde vai valente? você secô seus olhos insones
Secaram, não vêêm brotar a relva que cresce livre
E verde, longe da tua cegueira. seus ouvidos se
Fecharam à qualquer música, qualquer som, nem o
Bem nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe
Você pisa na terra mas não sente apenas pisa,
Apenas vaga sobre o planeta, já nem ouve as
Teclas do teu piano, você está tão mirrado que
Nem o diabo te ambiciona, não tem alma você é
O oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.

O que é teu já tá guardado
Não sou eu que vou lhe dar,
Não sou eu que vou lhe dar,
Não sou eu que vou lhe dar

Eu posso engolir você só pra cuspir depois,
Minha forma é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe, até o sem
Fim dos versos, versos, versos, que brota do
Poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita
Na palma da inspiração de caymmi, se choro, quando
Choro e minha lágrima cai é pra regar o capim que
Alimenta a vida, chorando eu refaço as nascentes
Que você secou.

Se desejo o meu desejo faz subir marés de sal e
Sortilégio, vivo de cara pra o vento na chuva e
Quero me molhar. o terço de fátima e o cordão de
Gandhi, cruzam o meu peito.

Sou como a haste fina que qualquer brisa verga
Mas, nenhuma espada corta
Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe comigo


Módulo 2 em breve.

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