Abaixo texto psicografado acerca da visão umbandista de Deus e da natureza do espírito.
Uma das maiores dificuldades no entendimento da teologia de Umbanda para um Leigo é diferenciar Zambi dos Orixás. Em especial de Oxalá, tido como pai da criação. Dita dificuldade é por vezes relativizada em razão da analogia direta que se faz com o conceito cristão de trindade: pai, filho e espírito santo. A Umbanda porém, como religião completa, apesar de prestar tributo à tradições antigas das quais herdou vários conceitos, não precisa do conceito de santíssima trindade para complementar sua visão de Deus.
A melhor forma de deixar claro a total independência da Umbanda é deixar claro que o conceito de Deus, expresso em Zambi é completamente diferente do papel atribuído ao Pai na tradição Cristã. Segundo a Bíblia, Deus criou céus e terras, criou pessoalmente o homem, árvores e animais, tal é a visão aceita pelo cristianismo. Na visão de Deus como três pessoas distintas - pai, filho e espírito santo - é possível inferir que todas estavam presentes no momento da criação. A Bíblia relata, ainda, a convivência direta de Deus com seres humanos, através de conversas, da oitiva de preces e ainda, escrevendo através de homens especialmente inspirados, um livro sagrado.
A Umbanda, como religião universalista, entende que toda tradição religiosa possui uma função na elevação espiritual da humanidade e, como tal, jamais deprecia nenhuma prática ou crença, desde que esta tenha como foco a melhora do homem como ser e o respeito à obra divina materializada no universo. Entretanto, sua independência deve ser explanada para deixar claro a todos que o umbandista não deve coerência doutrinária aos adeptos de nenhuma outra tradição. É o que ora se propõe a fazer.
Zambi é a energia suprema, a fonte primordial, não criada, não gerada, não sujeita ao tempo, o uno, de onde todos saímos e o norte para o qual tudo vibra como a agulha de uma bússola. A melhor palavra para definir Zambi é incognoscível, que significa aquilo que não se pode conhecer. Zambi é força além de toda inteligência e compreensão humana. Apenas em nossa total realização espiritual poderemos almejar compreender um milésimo do que ele significa. É a perfeição em todos os polos e sentidos.
Zambi não julga, não sente raiva, não se vinga, não toma partidos, não escolhe ninguém. É como o sol que brilha sobre a cabeça do justo e do injusto, a chuva que molha o rico e o pobre. Toda e qualquer criatura, dos elementais das pedras, passando por vírus, bactérias, animais, plantas, seres humanos, entidades cósmicas e Orixás, tudo está abaixo dele, inserido nele e vivendo por ele. Não é divindade tribal, nacional e nem mesmo planetária, nenhuma religião conseguiria explicar sua grandeza, nenhum livro seria capaz de conter sua essência e não há ninguém capaz de expressar sua vontade.
Oxalá é a luz de Zambi, o princípio criador que surge da fonte suprema, nossa ligação mais próxima com Deus e o caminho ao alcance de todos para chegar até ele. A luz branca de Oxalá, como um prisma, ao se manifestar na criação divide-se em diversos matizes e tons, é o amarelo de Oxum, o vermelho de Ogum, o preto de Omulu. A presença da luz só é possível revelando-se seu oposto, expresso em Exu. E para que tais forças possam ter autoconsciência, é preciso a mente, ai entra Orunmilá. Nomes de forças e energias primordiais, que em outras religiões podem receber outros nomes, sem alteração algumas em suas essências primárias.
Estas luzes divinas que a tudo permeia e que manifesta todo o universo, também é o berço criadouro das almas. Energia vibrante que surge a partir da aquisição da senciência pelos princípios elementais da natureza. Assim, a energia vibrante do metal, dos rios, dos mares, da terra, das pedras, dos ventos e etc, ascendem do reino elemental à matéria, manifestando-se nos reinos vegetais. Aprendendo a ter sensações e transformar a energia nas plantas, estes princípios adquirem os instintos animais, encarnam e reencarnam nos mais diversos animais, especialmente naqueles afins à energia primordial (orixá) que o gerou.
Seguindo a trilhar esta senda, adquirem então estas energias a autoconsciência, despertada na encarnação humana. Mesmo como ser humano, aquele princípio continua a renascer sob a regência da luz divina que o gerou. A pequena fagulha de energia das cachoeiras, ao passar por todos os reinos até o humano, sempre será um filho de Oxum. A pequena fagulha do metal primário sempre encarnará como filho de Ogum. Desta forma, as energias da natureza - Orixás - passam a representar na personalidade e arquétipos humanos suas qualidades energéticas naturais. Surge então o Ogum Guerreiro, o Xangô da justiça, A Iemanjá mãe amorosa e etc.
Entretanto, não basta a estes espíritos reencarnarem sob única regência do seu Orixá pai. Toda e qualquer força no universo veio de Zambi e todas vibram de volta à Zambi. Zambi é nosso destino, incognoscível e inalcançável, mas que nosso espírito nunca cessará de buscar. Oxalá é a estrada, é a perfeição espiritual personificada, o guia seguro que Zambi legou a todos. Assim, todas as luzes buscarão em si a completude desta luz branca perfeita. Para tal, precisamos reencarnar mais e mais, recebendo em diferentes vidas as vibrações de todos os Orixás, para nos tornarmos perfeitamente evoluídos em todas elas e assim nos aproximarmos de Zambi cada vez mais. Tal é a função dos Orixás de frente e adjunto (juntó).
É um movimento obrigatório, como a limalha de ferro que ao ser exposta ao imã, sempre vibrará em sua direção até alcançá-lo. Todos vibram de volta à Zambi e mesmo os mais resistentes, cedo ou tarde, prosseguirão em sua evolução. O rio corre para o mar e todo princípio energético neste grande rio existencial corre para o mar que nos gerou todos.
Desta forma, se explica também a existência de filhos de todos os orixás. Assim como para a realidade e a natureza existirem, um sistema harmônico de forças precisa estar em ação constante. A vibração dos componentes de tal sistema em direção à sua origem é igualmente necessária.
Os Orixás princípios energéticos da natureza buscam sua completude na energia natureza humana, e vice-versa. Os orixás princípios da energia masculina buscam sua completude na energia feminina, e vice-versa. Os orixás que estão além do conceito de masculino e feminino, por regerem o destino, buscam sua completude na aquisição e entendimento destas forças duais. Os orixás do espírito buscam a completude com o da matéria, sendo a recíproca também verdadeira. O destino, Oxalá-Obatalá, o princípio da perfeição (não confundir com o Oxalá princípio energético da natureza, que faz par com Nanã), aquele que nos guia ao incognoscível.
Somos todos pequenos Omulus, Oguns, Xangôs, Iemanjás, Oxuns, Oxóssis, Nanãs, Óyás, Exus e etc, na longa, eterna, única e verdadeira jornada de volta à fonte suprema, completando e reiniciando os eternos ciclos da existência.
Na paz de Deus,
Em 22/06/2016, recebido do Caboclo Ubirajara, médium: C.I. Morais .