9 de jan. de 2013

O Manual do Falso Guru


As pessoas em sua grande maioria, possuem uma espécie de resistência natural à evolução espiritual. Quando falamos de evolução, nossa mente logo entende como algo positivo, algo a ser desejado e buscado com todas as nossas forças. Quem não é evoluído, é careta, é retrógrado, e ninguém deseja tal imagem perante seus pares. Porém, quando o assunto é evolução espiritual, somos treinados para admirar, venerar ou até adorar aqueles que chegaram lá, como os santos e iluminados, mas quando se trata da nossa própria evolução, nos acovardamos e dizemos que ainda não é chegada a nossa hora, ainda não chegamos no nível dos iluminados.

Isto porém, não faz com que deixemos de desejar esta evolução, o que favorece o surgimento do chamado falso guru, aquele ser que se passa por alguém evoluído ou iluminado, disposto a compartilhar sua luz com os mais atrasados. Ao falso guru, não importa realmente a evolução de ninguém, desde que continue ganhando dinheiro com seus livros, palestras e demais materiais pseudocientíficos ou pseudofilosóficos. A moeda que paga um falso guru nem sempre é só dinheiro, alguns deles querem reconhecimento também, devoção e até adoração, normalmente o resultado final de seus lucros é um misto disto tudo.

É uma vampirização que se opera em vários níveis, potencializada por ser aplicada em grupos de pessoas e não em indivíduos isolados. Esta postagem é dividida em duas partes, a primeira é COMO SER UM FALSO GURU, onde elencaremos as estratégias usadas por estas pessoas para ganharem adeptos, começando por um princípio geral que explica porque falsos gurus, mesmo os mais absurdos, sempre terão algum número de adeptos.


O Manual do Falso Guru, parte I – Como Ser Um Falso Guru

O Princípio do Bule de Chá

Este princípio com nome estranho é importantíssimo para quem deseja entender e se defender dos falsos gurus. O bule de chá foi uma analogia criada pelo filósofo Bertrand Russel para demonstrar que não cabe a quem duvida de uma proposição prová-la falsa e sim a quem acredita na mesma prová-la verdadeira. Ele usou isto para demonstrar que quem acredita em Deus é que tem que provar sua existência e não quem duvida dele. Ele então propôs a ideia de uma crença em um suposto bule de chá voador, sugerindo que quem deveria provar a existência do tal bule era quem acreditava nele.

Não usei o bule de chá de Russel para homenageá-lo, e sim para criticá-lo, é completamente absurda a comparação do bule de chá com Deus, porque se ambos tratam de uma crença, crenças são coisas em que acreditamos, e não coisas que sabemos, se víssemos Deus, pudéssemos pegá-lo e demonstrar para qualquer um a sua existência, deixaria de haver crença nele e passaríamos a SABER de sua existência. Porém, estamos falando dos falsos gurus e não de teologia, mas o bulé de chá nos será muito útil também aqui. Ora, o bulé de chá como uma proposição de crença absurda cai como uma luva na teoria do falso guru.

Todo princípio contém um enunciado, uma frase curta que procura dar uma ideia do seu sentido geral, o enunciado do princípio do bule de chá é: “NÃO IMPORTA O QUANTO UMA CRENÇA NOVA SEJA ABSURDA, SEMPRE HAVERÃO PESSOAS QUE ACREDITARÃO NELA.” Já pararam para pensar como falsos gurus absurdos conseguem seguidores? Eles pedem todo o seu dinheiro, exigem favores sexuais, distorcem conhecimentos milenares dos grandes mestres e mesmo assim sempre tem alguém que acredita. Isto é resultado da pluralidade de pensamentos humanos, somos tão plurais, tão diversificados, que sempre haverão mentes que absorverão até as crenças mais absurdas. Se este princípio encorajou você a se tornar um falso guru, as regras a seguir lhe darão um mapa completo de como chegar lá.

Tenha Contato com Forças, Seres ou Conhecimentos que os outros não podem contatar

Esta é uma regra praticamente universal, a exceção a ela é se VOCÊ MESMO FOR UM SER SUPERIOR ENCARNADO. Você pode inventar seu próprio ser superior, como a entidade crística-búdica da 171ª dimensão do distante multiverso de Galactron Menor III, ou então sugerir que tem uma ligação especial, poderosa com uma entidade já reconhecida como por exemplo, criando uma nova igreja evangélica dizendo ter recebido uma missão diretamente do espírito santo, além de poderes para operar milagres e fazer profecias .

Tudo depende do foco que você deseja seguir. Se quer se inserir em uma religião já instituída, e portanto, com vária ovelhas em potencial parcialmente doutrinadas, é melhor ser ligado a uma entidade já presente, se quer criar e seguir costumes completamente novos, inserindo-se por exemplo, no meio esotérico em geral, recomenda-se que crie sua própria entidade, ou seja conectado a uma entidade já inventada por outro falso guru, mas cuidado, algumas delas tem direitos autorais, por mais irônico que possa parecer.

A face mais modesta é aquele falso guru que não se diz nem um ser superior, nem um enviado, mas sim alguém que descobriu alguma nova técnica mágica ou de elevação e está disposto a fazer o sacrifício de compartilhá-la com os outros. Cuidado se decidir ser este guru, porque como há muitas pessoas que realmente possuem algo a ser repassado, você precisa caprichar mais ainda nos próximos elementos para conseguir seguidores.

Enfeite a sua biografia

Se você é um enviado do cristo cósmico de um multiverso distante, claro que é uma pessoa especial. E vários eventos da sua vida devem ter demonstrado que você era uma pessoa especial. Seres de outra dimensão podem ter visitado sua mãe antes de você nascer, ou visitado você no berço ou nos primeiros anos de vida. Você demonstrou habilidades psíquicas ou espirituais cedo, assim como também pode ter desenvolvido um interesse genuíno por espiritualidade ou ocultismo, dependendo do foco de suas futuras ovelhas. Além do mais, você demonstra habilidades que outros não possuem naturalmente, advinha coisas facilmente, converte pessoas com um olhar, cura doenças ou coisas do tipo. Além disso é importante, NÃO TER VERGONHA DE CONTAR SUA HISTÓRIA, fale claramente, sem tremer a língua, de como você é especial e como sua vida demonstra isto, os gurus verdadeiros são discretos ao falar de habilidades ou de elementos especial de sua história, isto porque eles tem algo de bom a passar, você não tem, então mantenha as pessoas presas a sua história especial, seja confiante ao falar dela, ninguém segue um guru inseguro.

Você TEM uma missão

Você precisa deixar claro para todos que ser um guru é um fardo, uma missão que você abraçou, fale isto como se você fosse um pobre coitado que se sacrifica pelo bem das ovelhas ingratas. O que são R$ 2.000,00 diante da elevação das suas supramônadas arcangélicas intraespiríticas? O que são R$ 500,00 para pagar uma mensagem exclusiva de um ser crístico? E R$ 100,00 diante de uma vela especialmente abençoada por deus em pessoa? É um fardo aturar os involuídos, sempre demonstre isto.

Esconda grandes segredos dos seus discípulos

Nunca permita que um discípulo ache que se igualou a você, mas não deixe que ele perca a esperança disto. Sempre alimente os seguidores com novas e falsas, senão eles debandarão para um novo guru que tenha algo a repassar. Esta dica é importante porque é normalmente a saída para crises internas entre seus seguidores. Estão desacreditando de você? Deixando de seguí-lo?

Simples, faça-se de vítima e diga que estava apenas preparando um conhecimento novo, uma nova iniciação para disponibilizar ou uma revelação que iria mudar a vida dos discípulos, se eles não fossem impacientes. Você pode ameaçar também de que não irá revelar mais nada por causa das traições e da incompreensão dos seguidores, que atrapalham sua missão. Nunca esqueça de deixar claro que estas novas revelações são o prêmio dos que continuarem confiando e lhe seguindo.

Seja Perseguido Pelos Inimigos da Missão

Se você foi enviado para uma missão do bem, claro que há coisas e seres ruins que querem te atrapalhar, pode ser o capiroto em pessoa querendo tirá-lo do caminho do espírito santo e corromper sua igreja, ou manipulando jornalistas para atacá-lo. Pode ser KaosTRum, a entidade malvada da 171ª dimensão ou apenas os não adormecidos, que não compreendem sua missão e tentam atrapalhá-la por iniciativa própria ou manipulados por forças sombrias. Sempre associe perseguições a você a ataques do bem contra o mal, alegando a manipulação ou ignorância de quem lhe ataca. Você pode dizer que os perdoa pelos ataques para demonstrar ser ultra mega bláster evoluído.

Se ninguém liga para você, ninguém lhe persegue, invente perseguições, as pessoas terão compaixão de um guru perseguido e irão desejar colaborar mais com sua causa. Veja os casos dos falsos gurus que quanto mais atacados, mas fanáticos ficam seus seguidores. O ser humano adora um mártir para seguir, SEJA UM. Mas claro, sua condição de mártir não o impedirá de desfrutar de todo o dinheiro que lhe é doado e dos favores que lhe são feitos, então você só tem a ganhar. Importante, esta dica é a saída para você que possui poucos seguidores, alegue que está sendo perseguido por forças invisíveis e por isto poucos lhe ouvem, isso fará com que os poucos tolos que caíram na sua lábia se achem muito especiais por serem os raros espécimes capazes de resistir as forças do mal para segui-lo. Fale às lágrimas, “irmãos, o inimigo não quer que esta obra cresça.”

Nunca perca a Pose

Este é o segredo final, quando as coisas darem errado, quando descobrirem seus podres, exporem sua fortuna ou provarem que seus ensinamentos são falsos, mantenha a força na peruca. Finja que tudo não passa de um grande golpe do inimigo querendo derrubá-lo e exorte seus seguidores a ajudarem a impedir isto. As ovelhas se sentirão tão vítimas quanto você e não o abandonarão. Lembre, se você perder a pose, você se mostra fraco e ninguém segue gurus fracos. Seja forte, nunca admita seus erros, sempre alegue perseguição e sempre haverá quem o siga, em virtude do principio do bule de chá. Então, quando tudo mais falhar, lembre do bule de chá. Com esta rima mal feita, encerro a primeira parte deste manual.


O Manual do Falso Guru, parte II – Como Reconhecer Um Falso Guru

 

O mero fato de ler com a mente aberta as dicas para ser um falso guru, já fornece muitos elementos para reconhecê-los, vários nomes devem ter lhe surgido na cabeça enquanto lia. Para fortalecer ainda mais sua habilidade de reconhecer os falsos gurus, apresento os 5 princípios para reconhecê-los.

O princípio da Árvore dos Frutos Envenenados

Embora hajam outros elementos, todo falso guru cai em pelo menos um dos quatro princípios abaixo. E se ele cair em pelo menos um, lembre deste primeiro princípio, que é o mais importante de todos.
O enunciado deste princípio é: “ SE O FRUTO DE UMA ÁRVORE ESTÁ ENVENENADO, TODA ELA SE CONTAMINA”. Traduzindo, se um guru falha em quaisquer um dos seus deveres ou dos elementos que se espera de um verdadeiro guru, mesmo que ele satisfaça a todos os outros ele ainda assim é um falso guru.

Digamos que certo pastor faça curas, milagres e etc, se mesmo fazendo tudo isto, for provado que ele é um adúltero, pode ter certeza que ele é um falso guru. Dando um exemplo esotérico, digamos que certo esotérico se diz conectado ao Deus das 30 mil faces, a divindade suprema que lhe conecta a energia das 30 faces, que ele pode usar para curas, digamos que ele realmente faça certas curas e você se sinta muito bem em sua presença, se ele cobra valores absurdos, é um falso guru. FUJA. Não esqueça, seres do bem, o espírito santo, cristos cósmicos e etc, não irão escolher alguém explorador ou de valores morais contestáves para trazer uma mensagem. O guru não deve ser apenas bom e honesto, ele deve parecer bom e honesto, se pairam tantas dúvidas, investigue.

O princípio do preço razoável

Este é um princípio delicado de lidar, porque discute a velha história de se é correto ou não cobrar por serviços espirituais. Não iremos entrar neste mérito, vamos apenas falar do preço razoável. O enunciado deste príncipio é “FALSOS GURUS TENDEM A ESTIPULAR PREÇOS EXOBITANTES PARA SEUS PRODUTOS E SERVIÇOS”. O preço razoável é aquele que não extrapola as condições de uma pessoa média. Digamos que um guru cobre R$ 20,00 reais por um livro de 160 páginas. É algo mais que razoável, é um preço que se espera de um livro de tal valor. Porém se ele cobra, R$ 100,00 reais por uma vela benta, pode desconfiar. Este princípio é o mais fraco de todos, sendo difícil identificar um falso guru apenas com ele, por vários motivos.

Primeiro, há falsos gurus que não cobram nada, apenas recebem doações voluntárias, outros, nem doações voluntárias aceitam, querem apenas ser admirados. Há também falsos gurus que cobram preços justos por livros, DVDs e objetos esotéricos. Vá por exclusão, um falso guru pode até cobrar preço justo por um livro, mas um verdadeiro jamais cobrará um valor exorbitante.


O princípio da Janela Quebrada

Este princípio tem muito a ver com o primeiro, e poderia até ser englobado por este. Seu enunciado é “O FALSO GURU SE REVELA NOS MÍNIMOS DETALHES”. Não precisa investigar se seu guru cometeu homicídios ou crimes sexuais para decidir se ele é ou não honesto. Um ser especial como ele se diz deve ser bom nos pequenos detalhes. Se ele jogou uma pedra na janela do vizinho e a quebrou, isto é o suficiente para que desconfie dele. A dica é, não se contente com a história oficial de seu guru, procure vasculhar a vida dele nos mínimos detalhes, em todas as épocas e provavelmente terá boas surpresas.

O Princípio da Sala negra

O enunciado deste princípio é: “FALSOS GURUS SE REVELAM NA INTIMIDADE”. Você sabe como é a vida pessoal do seu guru favorito? Onde ele mora, o que ele come, como é sua rotina, como ele passa os tempos livres? Procure saber, atenha-se especialmente aos detalhes sobre o que seu guru faz longe das vistas dos seus seguidores, o que você faria em uma sala negra onde ninguém pudesse ver o que você está fazendo? Provavelmente são estas coisas que o seu falso guru faz longe das vistas dos seguidores.

O Princípio dos Espelhos

Este princípio é deveras útil, ele permite que ao reconhecer um falso guru, você reconheça vários outros simplesmente comparando-os brevemente. O princípio dos espelhos diz: “FALSOS GURUS SÃO PARECIDOS”. Dificilmente você vê um guru original, eles seguem as mesmas regras, os mesmos macetes, se você identificou aquele pastor líder da igrOeja evangélica da moda como um falso guru, faça uma breve reflexão sobre outros líderes de igrejas e você identificará vários outros. No mesmo sentido, se aquele guru esotérico que inicia na força cósmica dos 300 raios de cristal de quartzo do universo holográfico, for um falso guru, provavelmente aquele que inicia nas supramônadas monocromáticas da hierarquia arcangélica também o é.

Apesar do aparente tom de humor, a presente postagem tem o sério objetivo de tentar esclarecer tantas pessoas que sinceramente dispostas a evoluir, entravam seu crescimento seguindo estes falsos líderes. Investigue tudo, busque por si só, corra atrás da verdade, não se torne fascinado por qualquer um. É melhor caminhar sozinho do que mal acompanhado.

P.S.: a quem interessar, as janelas quebradas, a sala negra e a árvore dos frutos envenenados são teorias jurídicas ou sociológicas que adaptei para os falsos gurus.